Em meio a tantos filmes grandiosos e espetaculares, Vidas Passadas (“Past Lives”, no título original, de 2023) se destaca pela sua delicadeza e profundidade emocional.
O longa, dirigido pela estreante Celine Song, explora temas como destino, amor e as conexões que atravessam o tempo, oferecendo uma narrativa intimista e contemplativa que tocou o coração do público e da crítica.
Vidas Passadas acompanha a história de Nora e Hae Sung, dois amigos de infância na Coreia do Sul que são separados quando a família de Nora emigra para o Canadá. Anos depois, já adultos, eles se reencontram em Nova York e confrontam os sentimentos não resolvidos do passado, questionando como suas vidas poderiam ter sido diferentes.
Entre memórias, diálogos intensos e uma atmosfera melancólica, o filme constrói um retrato sensível sobre os caminhos que escolhemos (ou que nos são impostos) ao longo da vida.
Em entrevistas, a diretora Celine Song revelou que a narrativa de seu primeiro longa-metragem foi, de fato, inspirado em porções de uma história real, a da própria artista enquanto imigrante a partir da ajuda a uma amiga da Coreia do Sul em troca com o seu próprio marido durante uma noite em um bar de Nova York.
“Como bilíngue, eu estava traduzindo entre os dois que não conseguiam se comunicar e isso me fez perceber que eu estava traduzindo algumas partes da minha identidade e história”, confessou, “isso me fez querer fazer esse filme”, reporta o site G1.
Quem é quem no elenco do filme Vidas Passadas
- Greta Lee como Nora: A protagonista cuja jornada emocional conduz a narrativa, interpretada com grande profundidade emocional.
- Teo Yoo como Hae Sung: O amigo de infância de Nora, que representa o passado e as possibilidades não vividas.
- John Magaro como Arthur: O marido de Nora, um personagem crucial para o conflito emocional da história.
Greta e Teo, protagonistas, desenvolveram uma forte química para as filmagens, passando semanas ensaiando para capturar a emoção dos personagens. O envolvimento ainda se comunicou diretamente com o conceito central do filme, em torno da ideia coreana de “In-Yun”, que sugere que as conexões humanas são moldadas por encontros em vidas passadas.
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O que é In-Yun, conceito no qual se baseia o filme Vidas Passadas
“In-yun” é um termo coreano que pode ser traduzido aproximadamente como “destino” ou “providência”. No entanto, seu significado vai além dessas traduções simplistas, carregando uma profundidade filosófica e cultural específica da Coreia. No contexto do filme “Vidas Passadas”, in-yun é utilizado para explorar ideias sobre as conexões entre as pessoas que transcendem uma única vida ou encontro.
A filosofia de in-yun está enraizada na crença budista da reencarnação, mas se tornou um conceito mais amplo na cultura coreana. Segundo essa ideia, cada encontro entre pessoas é o resultado de muitos encontros em vidas passadas.
Isso significa que, se duas pessoas se cruzarem na vida atual, mesmo que de maneira breve ou casual, é porque elas já têm uma história compartilhada de encontros ao longo de várias vidas anteriores.
- Camadas de in-yun: Existe uma noção romântica associada ao in-yun que sugere que, para dois indivíduos se casarem ou formarem uma conexão profunda, é necessário que tenham acumulado 8.000 camadas de in-yun ao longo de 8.000 vidas passadas. Esta quantidade simboliza a profundidade e a complexidade da conexão entre eles.
- Conexões casuais e profundas: Mesmo encontros menos significativos, como passar por alguém na rua e acidentalmente tocar suas roupas, são vistos como uma manifestação de in-yun. Isso implica que até as interações mais fugazes têm um sentido de destino, uma espécie de ligação cósmica ou kármica que as une.
No filme, o conceito de in-yun é central para a narrativa, explorando como Nora e Hae Sung, os protagonistas, estão ligados por algo além da simples coincidência ou escolha. A história mostra como, apesar das mudanças geográficas e culturais, há uma força invisível que os une, questionando as escolhas de vida que fizeram e o que poderia ter sido se tivessem feito escolhas diferentes.
O filme usa in-yun para refletir sobre o destino versus escolha pessoal. Nora, que emigrou para o Canadá e depois para os EUA, e Hae Sung, que permaneceu na Coreia, encontram-se numa dança de reencontros e desencontros que parecem inevitáveis, mas que ao mesmo tempo questionam o controle que temos sobre nossas próprias vidas.
Através do in-yun, “Vidas Passadas” não só explora o romance e o destino, mas também as nuances das identidades culturais, mostrando como Nora, mesmo tendo se adaptado à vida ocidental, carrega consigo uma conexão profunda com suas raízes coreanas, que é evocada sempre que encontra Hae Sung.

Recepção e prêmios conquistados pelo filme Vidas Passadas
- Indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original;
- Vencedor do National Board of Review como um dos melhores filmes do ano;
- Vencedor do prêmio de Melhor Longa-Metragem no Film Independent Spirit Awards, em 2024;
- Elogiado por diretores renomados e considerado um dos melhores romances lançados em sua época;
- 95% de aprovação no agregador de críticas Rotten Tomatoes, destacando-se como um dos filmes mais bem avaliados do ano.
Desde sua estreia, Vidas Passadas foi amplamente aclamado pela crítica, sendo elogiado por sua direção sutil, roteiro comovente e atuações marcantes.
O filme conquistou espaço em diversos festivais e premiações, sendo indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Seu sucesso não apenas consolidou Celine Song como uma cineasta promissora, mas também reafirmou a força do cinema independente e das histórias baseadas na introspecção e nos sentimentos humanos.
O longa, apesar de ser uma produção independente, teve um desempenho surpreendente nas bilheteiras, arrecadando mais de US$ 20 milhões mundialmente, um número expressivo para um drama de baixo orçamento. Outro destaque ficou por conta da trilha sonora de Vidas Passadas, composta por Christopher Bear e Daniel Rossen, que reflete a atmosfera delicada e introspectiva do filme, complementando perfeitamente o tom melancólico da narrativa.
Diferente dos romances convencionais, Vidas Passadas não se baseia em grandes reviravoltas ou exageros dramáticos. Em vez disso, aposta na sutileza das emoções e nos silêncios significativos. O filme nos faz refletir sobre as escolhas que moldam nossas vidas e como os laços do passado continuam nos acompanhando, mesmo quando tentamos seguir em frente.
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Onde assistir ao filme Vidas Passadas, de Celine Song
O filme “Vidas Passadas” é a atração do Cine BBB de quarta-feira (12/2), na TV Globo; como já é tradição em época de Big Brother Brasil, o canal exibe o mesmo filme exibido para os brothers e sisters do reality show.
Em streaming, o filme “Vidas Passadas” está disponível no catálogo do Prime Video, e também está disponível para locação através do YouTube Filmes, Apple TV e do Google Play Movies.
Como termina o filme Vidas Passadas: alerta spoilers!
No final de “Vidas Passadas”, Nora, agora vivendo em Nova York como escritora, encontra-se com seu antigo amigo de infância da Coreia do Sul, Hae Sung. Os dois passaram a infância juntos e se reencontram após anos de separação através de uma conexão online que evoluiu para um encontro em pessoa. Durante a visita de Hae Sung, há uma tensão palpável entre eles, carregada de nostalgia e o peso das escolhas que fizeram na vida. Nora é casada com Arthur, um americano, e essa dinâmica cria um triângulo emocional complexo. Em uma cena crucial, Nora, Hae Sung e Arthur estão juntos em um bar, onde a conversa gira em torno de conceitos de destino e escolhas de vida, refletindo o tema central do filme sobre o “in-yun” (conexões de vidas passadas).
A despedida entre Nora e Hae Sung é cheia de emoção. Eles caminham juntos pela cidade, refletindo sobre o que poderia ter sido se as circunstâncias da vida tivessem sido diferentes. Hae Sung expressa seus sentimentos não ditos, mas ambos sabem que a vida que construíram separadamente não pode ser desfeita. A cena culmina com Nora observando Hae Sung entrar em um táxi para o aeroporto, deixando uma sensação de finalidade, mas também de aceitação. A tristeza é mitigada pela compreensão de que suas vidas seguirão caminhos distintos, mas a conexão entre eles persiste de uma maneira profunda e não física.
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No último ato, Nora e Arthur estão em casa, e a câmera foca neles enquanto ela está ao telefone com Hae Sung. Arthur, que observou a interação entre sua esposa e Hae Sung, pergunta a Nora se ela está bem, demonstrando sua compreensão e aceitação do passado dela.
O filme termina com um close-up em Nora, que parece encontrar paz com sua decisão de seguir adiante com sua vida atual, mas não sem um toque de melancolia pelo que poderia ter sido. A última imagem do filme é uma que encapsula o tema de conexões passadas e presentes, deixando o espectador com uma sensação de contemplação sobre o significado das escolhas e das vidas que vivemos.
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Foi um filme que conta essas situações nas vidas de várias pessoas , independente de nacionalidade ou costumes ! Foi muito dolorido ver a situação do marido aí ver que a esposa , nutre sentimentos ainda pelo namorado de infância e teve que participar de certos momentos em que os dois , em suas línguas , se declaravam um para o outro sem o marido da saber ! Foi uma mistura de várias sensações que levam uma pessoa que passa por uma situação assim , encontros virtuais e depois reais , a repensar se o casamento deve continuar ! Acredito que ele sofreu com muita maturidade com esse encontro dos dois ! Cada olhar , cada palavra deles , faz a imaginação da gente a ver outras situações ente os dois , pois isso está na vontade contida deles , isso é inegável ! Espero que outros filmes como esse , sejam feitos ! Acredito que a autora usou de toda a sua sensibilidade , aliada a sua cultura mais reservada , de dar a esse filme , toda a beleza do amor Platônico !