Sapatos niche como estes são tendência de moda quente em um mercado tão massificado

Quem acompanha tendências de moda e suas novidades para construir as bases de seu estilo pessoal com consciência sabe o quão importante a autenticidade e a originalidade são para fugir de armadilhas e loopings nocivos da indústria fashion. Mas esse caminho não é seguido apenas por consumidores conscientes, dedicados a explorar alternativas interessantes.

Com a pressão contra os efeitos nocivos da indústria da moda, a parte mais dedicada de seu mercado também começa a apostar em novas maneiras de se comunicar com clientes exigentes, despertando hits mias distantes da onipresença massica, e maçante, de grandes apostas comerciais.

Uma dessas vias ganha cada vez mais espaço no mercado de acessórios, e você pode ter ouvido falar da expressão que a resume: os sapatos niche. Ainda que seu nome possa ser direcionado a qualquer iniciativa que refine o foco de quem produz calçados, de olho em parcelas específicas de mercado, a tendência de sapatos se desenvolve de uma maneira mais interessante.

Como é que nascem as tendências “tradicionais” de sapato, se pensarmos na escala global de marcas de luxo e suas vias de difusão? Tradicionalmente, designers e diretores criativos de grifes de luxo quanto de etiquetas especializadas desenvolvem novas apostas a partir de suas fontes habituais de inspiração – movimentos comerciais, reports de bureaus dedicados, inspirações artísticas, relatórios de vendas de produtos, musas e musos de estilo, entre alguns dos infinitos recursos – e apresentam as novidades em coleções sazonais. A partir daí, as engrenagens de marketing, seja fabricado ou orgânico (na medida do possível), entram em ação e, caso o modelo caia no gosto do topo à base da pirâmide, está consagradas uma tendência de sapatos de duração tão longa quanto o ciclo de notícias do meio.

Os lucros são altos para quem emplaca um sucesso de vendas e caia no gosto do algoritmo, mas os custos também costumam ser alvo de críticas, ainda mais em um mercado que exige produção massificada, custe o que custar para seus ecossistemas, natural e social.

Assim, é nesse ponto que entram trabalhos dedicados a reverter um pouco do mecanismo a moldes tanto mais exclusivos, que se diferenciem pela capacidade técnica ou artística, quanto mais responsáveis. E daí vem a glória dos sapatos niche.

Niche, versão deluxe da palavra nicho, pede por foco. Em uma audiência específica, em uma proposta mais singular, em um método de trabalho que tem desculpa para tomar mais tempo, mais atenção ou mais recurso. Foco em um caminho que não pretende abraçar todo mundo, mas que pode se realizar plenamente (e comercialmente também) respondendo, direta ou indiretamente, às questões de um grupo pontual.

Na moda, este grupo alvo das investidas dos sapatos niche pede, muitas vezes, justamente pelas respostas às críticas do sistemão da moda. Ao invés de uma grande tendência consagrada, copiada, estimulada e explorada à exaustão, os sapatos niche entregam ideias mais detalhadas e exploram um pouco mais da criatividade fazendo com que seu trabalho especial consiga ganhar destaque entre a seara dos itens mais comerciais, tanto pela criação quanto pelo hack das estratégias de negócio.

Mas o que faz de um sapato um sapato niche? De acordo com as movimentações recentes deste mercado, essa ideia começa pela autenticidade da criação. Não é por que a plataforma boho da Chloé bombou que todo mundo precisa criar uma igual. Marcas mais autorais, que se permitem explorar caminhos mais específicos, alinhados à visão criativa e a demandas de volume menor, mas de resultados promissores, contam com esse ouro nas mãos. Assim, podem explorar técnicas mais apuradas, que não dependem de grandes equipamentes industriais, acabamentos mais preciosos, validados por expertise artesanal, inspirações em movimentos de vanguarda, que capitalizam o fator cerebral do design… tornar um sapato em uma escultura calçável ou em um símbolo de responsabilidade social ou ambiental passa a valer como estratégia, sim, de mercado.

O resultando também conta, basta notar o impacto que uma pessoa dedicada a exibir seu estilo nas redes sociais oferece ao apostar em algo que pareça uma nova descoberta aos seus seguidores. De onde é essa sandália de tiras esculturais? Ou esse tênis que brilha tanto quanto ouro? Como surgiu essa bota imponente que parece ter tornado o movimento de andar em uma performance?

Quando essa perguntas entram pra jogo sobre acessórios que não estão na corrente contínua das fashion weeks, dos grandes feeds de moda ou do scroll infinito das influenciadores, você pode contar que as traquitanas dos sapatos niche estão em funcionamento.

Com o passar das temporadas, as grandes marcas também assimilaram um pouco desta influência. Quando a alta-costura ou uma etiqueta de luxo desenvolve um modelo mais criativo, geralmente lançado através de reservas ou encomendas sob medida, elas estão também procurando se posicionar para além do mercadão trivial, ainda que deluxe. E quanto mais se fortifica a ideia de item nichado, mais os consumidores ativam seus radares para encontrar opções realistas, não só do tamanho de seus pés, mas também de seus orçamentos e realidades de consumo.

Claro que nem todo sapato niche é um santo, até porque, como em todas as outras capacidades de produção, fica cada vez mais difícil fechar as contas num mundo que pede mais e mais, custe o que custar, mas o sucesso dos sapatos niche apontam para uma possibilidade de sucesso que soa como mais interessante, principalmente para quem está se lançando no mercado ou intencionado em revigorar os alicerces de um grande negócio.

Os exemplos de sapatos niche passam por diferentes escalas. Vão desde marcas pequenas e autorais, de produção original e limitada que desafie propostas estéticas e funcionais ao alto escalão de grifes internacionais de luxo, que lançam itens esporádicos dedicados a provar que elas também podem romper com seus próprios vícios. Como exemplos recentes desta segunda categoria, os sapatos chamativos da Alexander McQueen, inspirados em cavalos, ou os tênis preciosos da Schiaparelli costumam ser catalogadas como sapatos niche, ainda que em um universo que justapõe exclusividade e desejo como poucos.

No Brasil, o mercado conta com opções igualmente interessantes, principalmente de marcas mais recentes que se dedicam à sapataria nichada. Vale a pena explorar itens de etiquetas como Pége, Room, Botti, A-Aurora ou Lucas Regal, por exemplo.

O feed do Instagram também se tornou um infinito pool de descoberta, com trabalhos dedicados que explodem à medida em que são descobertos e replicados por algoritmos fashionistas.

Para o lado dos consumidores, vale o recado de que, por mais específica que seja a sua demanda, seja de design, de inspiração ou de função, o mercado dos sapatos niche tem tudo para atuar, cada vez mais, ao seu favor. É só calçar os sapatos e correr atrás da sua próxima descoberta!

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