Quem não sofre, não percebe. Quem é atento, nota. Quem acompanha, sabe de cabeça. Quem escreve, reclama. Quem sofre, denuncia. Quem produz, ignora. Existem problemas em torno da moda cuja discussão retorna de tempos em tempos, geralmente puxada pela polêmica da vez. São destrinchados em publicações engajadas, viram assunto de textões, transformam-se em hashtags de instadenúncia. Só não ganham soluções. Sugiro uma pequena lista, na sequência.
Diversidade de pessoas
A modelo alta, magra e branca só pode chegar a um determinado ponto. Insistir nos mesmos tipos em desfiles, campanhas, editorias e fotos no Instagram é desinteligente; exclui uma parcela considerável de consumidores que procura identificação com crivo amplificado pelas ferramentas ao seu dispor. Restringir tanto, hoje, funciona como um ótimo atestado de desconexão com o seu tempo.
Responsabilidade humana e ambiental dos processos
Existe novidade de fato que justifique o lançamento de uma iniciativa fashion que não seja atenta aos seus meios de produção? Se a moda tem tal poder em ditar padrões e regras de consumo e comportamento, que este seja o próximo trend alert do empreendedorismo. Vai que pega.
Apropriação cultural desrespeitosa
A vigilância é cada vez mais potente, mas é necessário um update de firmware das “modas”. Sofre não quem desafia conceitos e usa fator de choque ao seu favor, mas quem ignora que o que funcionava há 10, 20 ou 30 anos precisa de revisão. Ao invés de ser refém, a moda poderia voltar a ser reflexo de seu tempo.
Superficialidade
Roupa não é só de grife, status não chega só via riqueza, sucesso não depende de look do dia. Valorizar insistentemente quem ostenta superficialidade emburrece público e agentes. E a inteligência fashionista?
Inovação não tem visibilidade
Empreender está em alta; novas abordagens pipocam em sites de financiamento, feiras de negócios, startups, laboratórios de experimentação e espaços de formação. Por outro lado, quem tem alcance insiste em repetir suas fórmulas restritivas. E se os canais abrissem o leque?
Consumo, logo existo
Separar a moda do consumo é tarefa delicada. “Arte aplicada”? Já distanciar a informação do impulso pelas compras é missão obrigatória. Não “tem que ter” um sistema sustentado pelo excesso de estímulos, nocivo aos recursos físicos, ambientais e psicológicos de quem vive ao seu favor. Personalidade não deriva de objeto, mas de pessoa.
Em alta velocidade, mas em qual direção?
Não dá tempo de ler porque a página atualizou para mais um view. Não dá tempo do verão porque o inverno já foi desfilado. Não dá tempo de apurar porque o outro já está publicando. Não dá tempo de olhar porque tem que fazer a foto. E a pressa pela próxima fase, cadê?