No meio do caminho teve um desfile: o que significa o inverno andrógino da Gucci?

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Sem confirmar o sucessor de Frida Giannini e sem a própria na direção criativa, a Gucci resolveu agir rápido para mostrar que quer mudanças. Frida deixaria o cargo apenas depois do próximo desfile feminino, mas fechou a saída um mês antes. Seja lá o que tenha deixado pronto, os chefes mandaram deixar de lado. Alessandro Michele, atual designer de acessórios, viu seu nome catapultado às atenções ao chefiar a coleção feita em cerca de cinco dias. Praticamente um episódio de Project Runway, só que ambientado em uma das maiores grifes do mundo, além de uma “entrevista de emprego” sob os olhos de toda a imprensa e interessados.

O fato de que tudo deu certo pode ajudar o boato de que Alessandro é um dos cotados para assumir a casa. Mais do que isso, dá uma primeira oportunidade de saber o que os executivos do Kering querem para a etiqueta. Poderia ser a potência máxima de seus dias de Tom Ford (por incrível que pareça, outro nome cogitado), mas o que se viu na passarela foi a versão mais delicada e sensível que se pode pensar para um homem Gucci, embebida pela androginia à la J.W. Anderson com blusas de seda arrematadas por laços no pescoço, golas com babadinhos, camisetas em rendas delicadas usadas por baixo de suéteres e ternos e camisas com tons e estampas da vovó. Tudo isso desfilado pelos garotos (e algumas garotas) do casting, acompanhados por mocassim-slippers que uniam a robustez do couro na frente com o abraço suave da pele no calcanhar. Roqueiros ou jet-setters, referências habituais de Giannini, passam longe dos garotos quase franzinos daqui, com roupas de quem reflete, e sofre, do mal do (novo) século. Um fun fact: a trilha sonora do desfile foi a composição instrumental que embala o primeiro longa de Tom Ford, Direito de Amar.

A dúvida nesta novidade é seu aspecto intermediário: até que se defina o próximo líder (diz que sai essa semana), não dá pra saber com certeza se isso aqui é mudança de verdade ou apenas uma aposta emergencial, na pressa de apagar a imagem de sua criativa anterior. Ainda assim, uma solução menos imediatista (e menos sexualizada) parece promissora, aproximaria o caso com o da renovação da Loewe, nas mãos de, sim, Jonathan Anderson. Por outro lado, uma imagem mais forte apressaria o retorno financeiro. Quem é que aposta neste caminho de fato para a Gucci?

Update 21.01: A Gucci confirmou Alessandro Michele como seu novo diretor criativo.

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