O impacto da inteligência artificial é 10 vezes maior que a Revolução Industrial, segundo CEO do Google
A Inteligência Artificial (IA) está pronta para transformar nosso mundo de maneiras que mal podemos imaginar. Segundo Demis Hassabis, CEO da DeepMind do Google, essa transformação pode superar a Revolução Industrial em dez vezes — e em um tempo muito mais curto.
Em entrevista ao The Guardian, publicada neste 4 de agosto, Hassabis compartilha sua visão de um futuro impulsionado pela IA, com “produtividade incrível” e “abundância radical”. No entanto, junto com essas promessas, surgem preocupações sérias que merecem nossa atenção.
Hassabis, ganhador do Prêmio Nobel e ex-prodígio do xadrez, é conhecido por suas grandes ideias. Seu trabalho na DeepMind, especialmente com o AlphaFold, revolucionou o entendimento das estruturas de proteínas, abrindo portas para avanços médicos.
No artigo, ele prevê que a inteligência artificial pode eliminar a escassez, resolvendo problemas complexos como produção de energia e erradicação de doenças. Ele imagina um mundo onde a IA empodera as pessoas, comparando os jovens de hoje, familiarizados com tecnologia, a “ninjas” que usarão ferramentas de IA para ampliar suas capacidades.
Hassabis compara o atual boom da IA à ascensão dos computadores domésticos nos anos 1980, mas em uma escala muito maior. Ele sugere que o impacto da IA será “dez vezes maior que a Revolução Industrial — e talvez dez vezes mais rápido”. Esse ritmo acelerado é ao mesmo tempo empolgante e intimidador, pois promete transformar a sociedade em apenas cinco a dez anos, possivelmente levando à Inteligência Artificial Geral (AGI) — IA com habilidades cognitivas semelhantes às humanas.
Para aqueles que dominarem a IA, Hassabis vê um futuro de empoderamento e oportunidades. Ele destaca a necessidade de filósofos e economistas redefinirem propósito e significado em um mundo onde a IA assume tarefas mundanas, liberando-nos para explorar artes, esportes e meditação. É uma visão otimista, onde a IA poderia criar uma “era de ouro” para a humanidade, como ele já mencionou em entrevista à Wired.
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Quem controlará tal abundância?
Aqui, no entanto, a história toma um rumo preocupante, e é o ponto do artigo que exige nossa atenção. Hassabis reconhece que o cenário da IA mudou drasticamente com o lançamento do ChatGPT da OpenAI em 2020, pegando até gigantes da tecnologia, como o Google, desprevenidos.
Ele admite que a corrida para escalar a IA expôs falhas, como “alucinações” (geração de informações incorretas ou fabricadas), e levanta uma questão crítica: Quem se beneficiará desse futuro movido a IA?
Esse é o aspecto mais problemático do artigo, e é um alerta que não podemos ignorar. Hassabis lamenta que as grandes empresas de tecnologia não tenham avançado mais lentamente, sugerindo os riscos de um desenvolvimento desenfreado.
A matéria aponta também temores crescentes sobre um futuro dominado por um punhado de corporações poderosas.
Se a “abundância radical” da IA for real, quem garante que ela será distribuída de forma justa?
Sem regulamentação robusta ou supervisão ética, há o risco real de que os benefícios da IA sejam monopolizados por poucos — gigantes da tecnologia, governos ou atores mal-intencionados — enquanto o restante da sociedade enfrenta desemprego, desigualdade e perda de autonomia.
O próprio Hassabis já defendeu uma supervisão internacional, comparando-a ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) ou até à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para tecnologia nuclear (The Guardian, 2023).
No entanto, o ritmo acelerado do desenvolvimento da IA está superando essas discussões. Essa falta de controle é particularmente alarmante quando consideramos o potencial de uso indevido da inteligência artificial, desde a criação de armas biológicas até a amplificação de desinformação, como Hassabis alertou em outros contextos no passado.
A IA tem o potencial de transformar a medicina, a energia e a vida cotidiana, mas a questão de quem a controla é crucial. A visão de abundância de Hassabis é inspiradora, mas sem um plano claro para garantir acesso equitativo, corremos o risco de um futuro onde a IA aprofunde desigualdades em vez de reduzi-las.
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Como Hassabis observa, precisamos de filósofos e economistas para enfrentar essas questões, mas também precisamos de ação — agora. Se a IA está realmente avançando dez vezes mais rápido que a Revolução Industrial, não podemos esperar pelo impacto para descobrir quem detém as chaves.
As ideias de Hassabis nos lembram que a IA é uma faca de dois gumes. Ela pode curar doenças e resolver crises energéticas, mas também pode concentrar poder de maneiras perigosas. À medida que avançamos para um mundo movido a IA, precisamos exigir transparência, regulamentação e um compromisso com a prosperidade compartilhada.