E o quanto é que Tom Ford entende do que faz? Para o inverno 2019, o caminho foi uma coleção maneirinha, toda focada na alfaiataria (uma das grandes habilidades) antes dos vestidos de festa com recortes e correntes do encerramento (outra famosa). Os dois blocos referenciam diretamente, como o estilista hesitava em fazer até pouco tempo atrás, seus sucessos passados – vide o look de veludo agora por Gigi Hadid (em aparição cada vez mais apagadinha) ou os próprios vestidos com extra metalizado que fizeram história em branco lá na Gucci (e depois, em 2016, aqui no Tom Ford de novo, hehe).
Tirado isso da frente, a precisão em não sair muito da linha pode ter link direto com a tal interpretação da vontade pela moda da década de 2000, como pode também responder aos excessos das coleções anteriores. Mas será que ela não pede algo a mais?
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A gente pensa muito em como a moda lê seu tempo e o ressignifica através de pano, molde, corte e aviamento (e show e narrativa e branding…), mas sugiro o exercício de, ao invés de interpretá-la, ouvi-la. Explico: se o rei do desfile luxuoso (alo, début feminino já firmado na história dos 2010’s) resolve apostar no conforto da pele (fake), na familiaridade das camisas sobre tricôs e dos agasalhos esportivos, no brilho infalível do cetim (que, sim, transformou as fotos das tais calças de cintura alta em imagens duvidosas apesar de suas qualidades), no retorno às assinaturas de estilo citadas acima… ou seja, na simplicidade em sua forma mais luxuosa e aconchegante (também cara), dá para ignorar o chamado?
Boa parte de quem é atento a esses movimentos já se antecipou, na frente mesmo de Ford: note como o fashionismo maximalista e desenfreado da última década se vê em curva descendente pra quem procura “novas novidades”. Tem muita gente que, ao invés dos likes habituais, agora vira os olhos a cada look grifado do feed vestido por quem é meio desmioladinho pra seus raciocínios.
Tom Ford faz a ponte então e, já que não está mais lá na frente do pensamento de moda hoje em dia, cumpre a função de comunicar tal mensagem a quem lhe escuta e a quem compra o que encontra nas suas araras. É um recorte, sim, mas vai assumir essa responsa pra ver. E ainda por cima cumpri-la com uma sequência de peças gostosas, com cara de rica, que podem agradar dos mais entendidos aos mais deslumbrados? Isso aí é nível hard!