SPFW Inverno 2015: eu ainda quero fazer parte da festa da Amapô

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Foto: Ag. Fotosite/FFW

Eu sou paulistano, mas não muito. Nasci em São Paulo, mas vivi mesmo no litoral, cresci de verdade no interior e só depois de grande é que fui pra cidadona. Descobri a moda ainda na faculdade (de cinema) e antes de saber de fato quem é Miuccia e quem é Ghesquière fui seduzido mesmo por roupa de muderno que saía à noite, quebrava o copo do drink e voltava pra casa com a roupa rasgada. Cena que eu acompanhava à distância nos muitos e muitos cliques de fotolog. Não foi à toa que minha primeira saída na cidade foi um show do Cansei de Ser Sexy (antes de ser CSS); quem convivia comigo sabe, até hoje, a letra de Meeting Paris Hilton. No mínimo, o refrão. Antes de comprar Margiela, eu comprei Amonstro (e pela internet). O excesso de “eu, eu, eu” não é pra pagar de cool como eram as pessoas que eu acompanhava (e que, confesso, queria imitar). É só pra deixar o plano de fundo sólido pra minha penca de adjetivo bom que vou soltar já já para o desfile da Amapô.

Pra comemorar os dez anos da marca, Carô Gold e Pitty Taliani fizeram o que chamaram de autohomenagem, remixando peças e ideias que já passaram pelo Amni Hotspot, pelo SPFW e ganharam as ruas nos endereços onde turma da qual você quer fazer parte vai. O protagonista da história é o jeanswear. Basta um passeio pela página do Facebook da Amapô pra ver a demanda e as broncas de quem não entende que fazer mais das desejadas calças skinny de cintura alta não depende só de boa vontade. Ainda que sejam elas o carro-chefe, a passarela da marca sempre teve mais: mais ideias, mais referências brasileiras, mais peças impossíveis (pra quem é chato), mais acessórios, mais imagem de moda jovem, boa e de tanto bom-humor quanto a dupla que a comanda ou seus convidados que assistem desfile fazendo dancinha (lembra quando desfile era divertido?). É preciso alta dose de energia pra fazer uma marca como esta vingar; toda ajuda é bem-vinda. A dupla já foi bem direta sobre as dificuldades que os negócios enfrentam em uma entrevista obrigatória pra quem quer entender parte dos problemas que marcas recentes enfrentam aqui no Brasil (leia aqui).

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Foto: José Pelegrini/Vogue Brasil

Com tanto contra, ver o guarda-roupa para elas e eles desfilado desta vez só aumenta a torcida para que venham mais dez, vinte, trinta anos de Amapô pela frente. Não é nem só pra mandar good vibe, é quase um pedido egoísta deste que escreve. É difícil resistir à vontade de (re)ativar o lado mais rebelde do cérebro com o mesmo vigor que as meninas desafiam as regras de modelagem e de estilo. A moda brasileira precisa amadurecer pra dar conta deste tipo de talento, mas não precisa ser pelo caminho sem emoção, de roupas internacionalmente elegantes. Desfilar com o primeiro vestido estampado de ombros de fora cheio de correntes com medalhinhas mais botinha de onça, com o vestido animal de moletom, com o colete perfecto folgadão, com o macacão listrado na costura ou com as pochetes de franjas compridas e os óculos (em nova parceria com a Chilli Beans) não é só um jeito que tentar conquistar o nível de credibilidade fashion dali (será que eu já passei da hora de dar conta?). É um jeito de acordar o nosso lado menos careta, que já se jogou (ou que quer se jogar) no tipo de liberdade criativa que Carô e Pitty levam para a passarela. Desfile usado como despertador. O casaco de lã normcore-japonista-tipo-Céline-com-amarração pode ficar pra hora de voltar pro escritório. O que eu queria mesmo agora é fazer parte dessa festa. Se fosse com dez anos a menos, melhor ainda.

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