Redes sociais e adolescentes: as diferenças entre dependência e uso problemático

Por Juan Manuel Machimbarrena, Universidad del País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea; Alexander Muela Aparicio, Universidad del País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea; Joaquín Manuel González Cabrera, UNIR – Universidad Internacional de La Rioja e Miriam N. Varona

A penetração da tecnologia em nossas vidas é inegável e, talvez, isso seja especialmente perceptível nos adolescentes. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (2022) (de Portugal), 94,9% dos menores entre os 10 e os 15 anos utilizaram a Internet nos últimos 3 meses e 69,5% deles têm um telefone celular. Além disso, de acordo com um relatório recente da UNICEF (2021), 98,5% dos adolescentes espanhóis estão registados numa rede social e, 83,5%, estão em mais de três.

Uma das atividades mais realizadas pelos adolescentes (mesmo antes da idade legalmente permitida, o que é particularmente preocupante) é a utilização das redes sociais.

Estes dados apenas corroboram o que vemos todos os dias: o uso da internet e do telefone é massivo e normativo entre os mais jovens.

Uso problemático e dependência são a mesma coisa?

A abordagem mais utilizada para tratar de comportamentos relacionados ao uso ou abuso de redes sociais (e outras tecnologias) por adolescentes tem sido a do vício. No entanto, esta abordagem tem limitações conceituais e, muitas vezes, envolve uma patologização desnecessária da vida cotidiana.

Em contraste com o uso do termo dependência, nós (como outros autores) preferimos falar sobre uso problemático.

A dependência se baseia, mais usualmente, em critérios relacionados a substâncias, como tolerância ou abstinência. Já o modelo de uso problemático concebe que um conjunto de comportamentos e processos cognitivos pode tornar-se disfuncional e levar a consequências negativas.

Desta forma, dimensões como a elevada preferência pela interação online e regulação emocional definidas pelas redes sociais podem estar ligadas a um controle deficiente (caracterizado por uma preocupação constante em estar conectado e pelo uso compulsivo das redes sociais).

As consequências negativas para o usuário são: problemas interpessoais (perda de relacionamento com outras pessoas significativas ou afastamento de outras atividades prazerosas ou da escola) e problemas intrapessoais (por exemplo, a sensação de ter perdido o comando sobre a própria vida). Estas consequências negativas são a chave para falar sobre o uso problemático.

É a norma ou a exceção?

O relatório da UNICEF, mencionado anteriormente, estimou em 33% a percentagem de adolescentes que usam a Internet de forma problemática. Outro estudo recente esclarece esse percentual e apresenta dados mais animadores, estimando em 13,2% o número de adolescentes que correm risco de apresentar uso problemático e, em 2,9% os que fazem uso claramente problemático de redes sociais.

Estamos, portanto, falando de uma faixa entre 2,9% e 33% e, possivelmente, a realidade esteja, como quase sempre, em algum lugar no meio.

As diferenças entre os dois estudos centram-se no instrumento de avaliação utilizado e em como o uso problemático é conceituado. De qualquer forma, e para a pergunta do título deste artigo, não há outra resposta a não ser uma negação categórica por parte dos autores.

Como podemos ajudá-los?

Embora o número de pessoas afetadas seja discutível, o que sabemos é que há muitos meninos e meninas potencialmente incluídos. Isso deve levar-nos a educá-los e treiná-los para o uso correto das redes sociais. Para tal, gostaríamos de oferecer algumas sugestões às famílias e aos adolescentes.

Para as famílias, a mensagem é que se envolvam: naveguem com eles, eduquem-os sobre o uso correto, maximizando os benefícios e reduzindo os riscos. Isso pode ser feito com as seguintes estratégias:

  1. A mídia social e a tecnologia não são inerentemente ruins. Pelo contrário, estão repletas de oportunidades e possibilidades. Embora entendamos que esse seja um assunto temido, restringi-lo não é, de forma alguma, uma garantia de sucesso.
  2. Antes que entrem no mundo da tecnologia, é essencial fornecer a eles habilidades específicas para maximizar as chances de uso equilibrado, seguro e útil das mídias sociais. Isso inclui competências para questionar a exatidão do conteúdo, reconhecer sinais de uso problemático, construir relacionamentos saudáveis por meio da mídia social (e pessoalmente), resolver conflitos em plataformas sociais, fornecer pensamento crítico ou evitar comparações prejudiciais.
  3. O uso das mídias sociais deve ser baseado no nível de maturidade de cada adolescente. Recomenda-se a supervisão de adultos e a adaptação dos recursos e permissões da plataforma de acordo com a idade e o grau de amadurecimento.
  4. Os contratos dos pais para o uso da tecnologia podem ser um poderoso aliado nos primeiros passos. O cumprimento de metas e acordos estabelece uma base de confiança e aumenta as possibilidades de utilização eficiente. Da mesma forma, as transgressões, seja em termos de conteúdo ou de tempo conectado, devem ser acompanhadas de consequências acordadas e conhecidas. É importante que o processo de uso seja consensual e relacionado às competências demonstradas.

Dicas para crianças e adolescentes

  1. Como usuário, você deve estar ciente do uso (às vezes abusivo) que faz das redes sociais. Seu objetivo deve ser agregar valor e facilitar a comunicação e os relacionamentos. Se a preocupação por eles for maior do que aquilo que eles oferecem, não estaremos fazendo bom uso.
  2. O fato de podermos acessá-los continuamente não é razão para fazê-lo. Saber o tempo real de uso (existem aplicativos para isso) pode ajudar a reduzi-lo de forma consciente e gradual.
  3. Não é necessário ativar notificações para tudo e nem estar constantemente conectado. As redes sociais são apenas mais uma ferramenta, mas somos nós que decidimos quando as queremos utilizar. É aconselhável desligar as notificações e escolher determinados horários do dia para nos atualizar, verificar e responder a mensagens e publicações.The Conversation

Juan Manuel Machimbarrena, Profesor agregado del departamento de Psicología Clínica y de la Salud y Metodología de Investigación, Universidad del País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea; Alexander Muela Aparicio, , Universidad del País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea; Joaquín Manuel González Cabrera, Docente e Investigador. Prof. Titular Universidad (Nivel 1). Actualmente, Investigador Principal del Área de Bienestar Emocional en el Instituto de Transferencia e Investigación (ITEI) e Investigador Principal del Grupo Ciberpsicología (UNIR)., UNIR – Universidad Internacional de La Rioja e Miriam N. Varona, Enfermera de Salud Mental y doctoranda en la Facultad de Psicología de la UPV/EHU

Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma Creative Commons license. Leia o artigo original.

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