Reduzir produção é solução para poluição de plásticos, não reciclagem, diz estudo
A produção global de plástico aumentou drasticamente, passando de 2 milhões de toneladas em 1950 para 475 milhões em 2022, segundo estudo publicado na revista The Lancet nesta segunda-feira (4/8), de acordo com o site G1. Projeções indicam que esse volume pode triplicar até 2060, ou até 2050 segundo outros especialistas, consumindo cerca de um quarto do orçamento de carbono restante, o que agravaria o aquecimento global.
Apenas 9% do plástico produzido é reciclado, e o estudo alerta que a reciclagem não será suficiente para resolver a crise da poluição plástica, devido à complexidade química dos plásticos, que dificulta sua reciclagem em comparação com materiais como papel, vidro e metais.
Os plásticos, em grande parte derivados de combustíveis fósseis, contribuem significativamente para as emissões de gases de efeito estufa, respondendo por mais de 5% das emissões globais em 2019. A produção e transformação de plásticos em itens como embalagens, têxteis e eletrônicos liberam bilhões de toneladas de gases poluentes.
Além disso, muito plástico acaba como microplásticos, encontrados em locais remotos, no ar e até no corpo humano, causando impactos ambientais e de saúde. A falta de consenso global sobre a redução da produção é um obstáculo, com negociações internacionais, como as realizadas na Coreia do Sul em dezembro, terminando sem avanços.
A China lidera a produção mundial de plástico, respondendo por um terço do total, seguida por países como EUA, Brasil, África do Sul, Irã e Arábia Saudita, que continuam expandindo sua capacidade. No Brasil, a produção atingiu 13,7 milhões de toneladas em 2022, equivalente a 64 quilos por pessoa, segundo a Abrelpe. O país é o quarto maior produtor de lixo plástico, mas recicla apenas cerca de 1% desse total, de acordo com o WWF. A maior parte do plástico descartado acaba em aterros, é incinerada ou polui rios e mares, com mais de 3 milhões de toneladas indo parar nos oceanos anualmente.
A reciclagem enfrenta desafios devido à baixa reciclabilidade de muitos plásticos, como os de uso único, que representam a maior parte da produção. Enquanto materiais como papel e vidro podem ser reciclados com facilidade, os plásticos quimicamente complexos exigem processos caros e muitas vezes inviáveis. Mesmo com avanços tecnológicos, como a reciclagem química, o relatório destaca que esses métodos não são escaláveis o suficiente para lidar com o volume de resíduos gerado, reforçando a necessidade de reduzir a produção de plástico virgem.
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Negociações globais para um tratado contra a poluição plástica, retomadas em Genebra, enfrentam resistência de países produtores de petróleo, como Rússia, Arábia Saudita, Irã e China, que bloqueiam propostas de limitação da produção. A influência de lobistas da indústria de combustíveis fósseis e químicos, que formaram a maior delegação nas negociações da Coreia, é um entrave significativo. Esses países defendem que o foco do tratado seja na gestão de resíduos, enquanto mais de 100 nações apoiam a redução da produção como solução principal.
Para enfrentar a crise, o estudo sugere que são necessárias intervenções baseadas na ciência, incluindo leis, políticas, monitoramento, fiscalização, incentivos e inovações. Ativistas, como Christina Dixon, da Agência de Investigações Ambientais, apontam que economias dependentes de petróleo resistem a mudanças, enquanto Giulia Carlini, do CIEL, destaca o peso dos interesses corporativos.
Apesar de 140 países terem implementado restrições a plásticos de uso único, especialistas, como Joan Marc Simon, da Zero Waste Europe, observam que a redução da capacidade de produção é significativa apenas na União Europeia, enquanto a tendência global é de aumento.
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