Para Ashish Gupta, não existe coisa mais chata do que regras

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Vamos começar de cara pela diversidade, ou melhor, pela homogeneidade do casting todo composto por modelos negros na passarela do verão 2015 da Ashish, na semana de moda de Londres. Negro não vende, não conta com bons nomes nas agências, não encanta os olhos dos consumidores da mesma maneira, não fica bem com certas roupas ou makes, não combina com produtos de luxo: as justificativas geralmente anônimas citadas nas já obrigatórias matérias sobre diversidade racial a cada temporada foram todas jogadas de lado no show da marca.

Quer mais? Então foca na modelo Winnie Harlow, nome que ganhou as atenções numa temporada do (já cafona) reality America’s Next Top Model com a pele que sofre com os efeitos do vitiligo, doença com a qual lida junto com a discriminação desde a infância; depois de duas entradas, foi ela quem encerrou o desfile, celebrada pelos convidados. Uma pena que essa pró-atividade ainda é exclusiva de grifes menores, menos engessadas, que se permitem tomar partido e ganham os aplausos que merecem (o fato de que esses dois temas não são discussões recentes só denuncia ainda mais a demora do feedback das grandes etiquetas).

Mas não é só bandeira que Ashish Gupta, estilista indiano que toca a label levanta. Com o olhar no streetwear (e um diploma no mestrado da Central Saint Martins em 2000), ele já é reconhecido por seus itens de muito, mas muito brilho que faz com que peças banais à primeira vista ganhem suas versões mais divertidas, festeiras e luxuosas. Junte uma boa dose de bom humor, frases, figuras pop e acessórios impactantes, concentradores de cliques nas redes sociais (vale lembrar as mochilas e tênis com plataformas com LED do inverno passado, que foram parar em uma linha em parceria com a Topshop) e você fica sabendo o que esperar dos desfiles da marca a partir de agora.

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Tem uma fórmula aqui: o trabalho da Ashish é todo baseado na reconfiguração das roupas através do uso dos paetês. Pensar em um conjunto de moletom para uma festa (ainda) é um pecado fashion, mas e se ele for completamente bordado? Uma jaqueta jeans, jogada para o lado mais casual do guarda-roupa, ainda tem o mesmo caráter se for toda brilhante? Diz que a camisa branca está de volta: se ela ganhar versão Ashish, a peça vai ter que sair do escritório (e do minimalismo) para ir direto pra balada. Um homem pode usar um colar de maxipedras? E uma calça jogging toda com plaquinhas coloridas? É claro que a roupa de Gupta é feita para quem não liga para regras, mas vale destacar a diversão dessa reapropriação das roupas, como ver um agasalho esportivo (tipo os de plush da finada Juicy Couture) ganhar luz prateada de tom tão festivo ou então jogar, através da riqueza de bordados, o efeito da estampa de cobra em uma camisetinha de corte tão casual. No bloco final, o flerte com o pop ganhou foco total: é daqui a versão paetizada do casal Kanye West e Kim Kardashian aplicado em uma blusa de moletom (replicada em vários sites de celebridades) que ganha companhia de uma calça com o rosto dos cinco integrantes da boyband One Direction.

Diversão na passarela é boa (e escassa), mas parece que ainda tem o seu lugar (vide o sucesso do kitsch da Moschino); aqui, o olhar é mais afiado, conectado à rua; uma calça jeans largona e rasgada (que já se tornou peça-chave da marca) é elevada à sua décima potência quando coberta por paetês brilhantes. Além disso, as peças são perfeitas para quem quer aparecer (ou sair bem num insta!) — não é difícil imaginar porque Madonna ou Miley Cyrus já desfilaram algumas de suas criações.

Nas mãos do Ashish, as pequenas peças reluzentes ultrapassam a função decorativa. Elas viram elementos de linguagem do designer, usadas para chegar às frases de moda que ele deseja formar (a literal, desta vez, dava um oizinho simpático pros haters). E vale dar um ponto aqui: com background artístico, o estilista já disse em entrevistas que é fascinado com luzes e luminosos; mais fácil ainda entender a escolha do brilho dos paetês como principal matéria-prima. Mas quando a mesma liberdade que o estilista tem com suas peças é levada de forma tão clara para a escolha do elenco, para a brincadeira com a fama e para o despojamento entre gêneros (o próximo desafio das passarelas), vale ainda mais celebrar a disposição que a marca mostra para colocar não só as suas roupas sob os holofotes de uma semana de moda.

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