O mercado de moda masculina não é coisa pequena. Movimenta em torno de R$ 2 trilhões/ano ao redor do mundo, em ritmo de crescimento maior do que a fatia dedicada às mulheres. No Reino Unido, é responsável por quase 800 mil empregos diretos e indiretos, além de estabelecer o díalogo entre a tradição em alfaiataria da Saville Row com os movimentos de base que sustentam o caráter inovador da moda local.
Na ponta oposta da indústria, o que pensa a geração que promete se tornar seus próximos protagonistas? A passarela armada no Banking Hall em Londres nesta sexta-feira (08.01), primeiro dia da London Collections Men inverno 2016, tentou expressar algumas respostas. Por lá passaram trabalhos de dez mestrandos da London College of Fashion, braço de moda da University of the Arts London (seu ex-aluno mais famoso é o designer de sapatos Jimmy Choo).
Nas entradas do desfile coletivo, a tradição histórica da moda britânica foi constantemente questionada; o mundo mudou, mas os códigos de vestir ainda não foram atualizados. Costumes ganharam frestas, versões desabadas, modelagem de painéis circulares evocando as linhas de Rei Kawakubo, tons vivos quase infantis ou modelagem skinny em conjuntos all black translúcidos tipo gótico suave. Camisas foram refeitas com franjas desenhadas a laser de acabamento desgastado pelo processo. Uma sequência de macacões xadrezes sob jaquetas matelassadas tamanho XXL levanta a dúvida se o único uniforme possível (ou eficaz) para o homem é mesmo o terno. Ninguém quer ser careta e sair de costume de lã azul marinho por aqui.
O passado dá as caras em versão remix: trajes inspirados em uma corte disfuncional sofisticam as referências de streetwear; em Londres, a moda da rua sempre ganha versão máxi para injetar caráter novidadeiro à passarela. A referência é boa também para feminilizar os garotos. Babados, laços, roupas de baixo e rendas dão acabamento suis generis à turma, em diálogo pertinente com o assunto quente nas conversas de moda. Quem é que vai ser louco de validar a masculinidade em seu aspecto mais bruto hoje em dia?