Morar perto do mar pode prolongar sua vida, aponta estudo

Viver junto ao mar sempre foi sinônimo de qualidade de vida para muitas pessoas: o ar puro, o clima ameno, o contato com a natureza, a sensação de bem-estar que a brisa marítima traz. Mas será que morar no litoral pode, de fato, aumentar a longevidade?
Um estudo abrangente, publicado recentemente na revista científica Environmental Research, trouxe evidências robustas de que sim — pessoas que vivem próximas às regiões costeiras apresentam uma expectativa de vida maior, em média, do que aquelas que residem em áreas mais afastadas do litoral.
A análise foi conduzida por uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, que investigou mais de 66 mil áreas censitárias em todo o país. Com um banco de dados enorme, que cruzava informações geográficas, socioeconômicas, ambientais e demográficas, os cientistas buscaram entender o impacto do ambiente sobre a mortalidade e expectativa de vida.
O principal achado? Em média, os moradores das regiões costeiras vivem cerca de um ano a mais do que a população geral americana, cuja expectativa de vida atual gira em torno de 79 anos. Além disso, a análise indicou que o acesso ao litoral está associado a menores taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares, respiratórias e algumas causas relacionadas ao estresse.
O que torna o litoral especial para a saúde
Mas por que exatamente o litoral seria um ambiente propício para uma vida mais longa? Os pesquisadores apontam para múltiplos fatores que, combinados, criam um cenário favorável à saúde:
Clima ameno e qualidade do ar
Áreas costeiras tendem a apresentar temperaturas mais estáveis e amenas, o que evita os extremos de calor e frio que podem agravar doenças crônicas, principalmente em idosos. Além disso, o ar próximo ao mar é menos poluído, carregado por partículas de sais marinhos que atuam como purificadores naturais.
Essa melhor qualidade do ar pode reduzir significativamente problemas respiratórios, alergias e doenças pulmonares — doenças que são causas importantes de mortalidade.
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Contato com a natureza e redução do estresse
Estar perto do oceano é comprovadamente benéfico para a saúde mental. O som das ondas, a cor azul do mar e o movimento constante da água têm efeitos relaxantes que ajudam a reduzir níveis de cortisol, o hormônio do estresse.
O estresse crônico é um dos maiores vilões da saúde moderna, aumentando riscos de hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e até enfraquecendo o sistema imunológico.
Estímulo à atividade física
A proximidade com praias, calçadões e parques costeiros incentiva os moradores a se exercitarem ao ar livre — seja caminhando, correndo, pedalando ou praticando esportes aquáticos. Esse estilo de vida ativo está associado a menor incidência de obesidade, diabetes e doenças cardíacas.
Condições socioeconômicas e infraestrutura
Muitas áreas costeiras, sobretudo nos EUA e em países desenvolvidos, são regiões de maior prosperidade econômica, com acesso a melhores serviços de saúde, educação e saneamento básico. Esse fator também contribui para o aumento da longevidade, já que o acesso facilitado à medicina preventiva e tratamentos de qualidade é fundamental.

Um contraste curioso: águas interiores urbanas
O estudo também revelou que residir próximo a grandes corpos d’água interiores, como rios e lagos em áreas urbanas, pode ter um efeito oposto, sendo associado a uma expectativa de vida ligeiramente menor.
Por que isso ocorre? Segundo os pesquisadores, fatores ambientais como maior poluição industrial e urbana, enchentes recorrentes e densidade populacional elevada, podem tornar essas áreas menos saudáveis. Além disso, a infraestrutura urbana nessas regiões muitas vezes não acompanha o crescimento populacional, dificultando o acesso a serviços básicos.
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Além dos fatores ambientais e sociais, o estudo levanta hipóteses sobre mecanismos biológicos que podem ser ativados pelo ambiente costeiro:
- Exposição à iodo e minerais marinhos: O ar marinho e o consumo de frutos do mar rico em iodo podem ajudar a regular a função da tireoide, essencial para o metabolismo e saúde celular.
- Radiação ultravioleta moderada: A exposição controlada à luz solar estimula a produção de vitamina D, fundamental para ossos fortes e função imunológica.
- Microbioma ambiental: Ambientes naturais promovem diversidade microbiana que pode influenciar positivamente o microbioma humano, ligado à regulação imunológica e metabólica.
O que isso significa para a saúde pública
Esses resultados trazem importantes reflexões para políticas públicas e urbanismo. Eles reforçam a necessidade de preservar e valorizar as zonas costeiras não apenas como áreas de lazer e turismo, mas também como espaços fundamentais para a saúde e qualidade de vida da população.
Além disso, sugerem que o planejamento urbano deve priorizar a criação de espaços verdes e azuis (água) acessíveis em ambientes urbanos para mitigar os efeitos negativos da poluição e estresse das cidades.
Apesar dos resultados promissores, o estudo é observacional e não prova causalidade direta. Muitos outros fatores — genéticos, culturais, econômicos — também influenciam a longevidade e precisam ser considerados.
A pandemia de COVID-19, que impactou mortalidade global, ainda não foi incorporada integralmente aos dados, e pode alterar padrões futuros.
Futuros estudos devem explorar os mecanismos biológicos com mais profundidade, considerar outras regiões do mundo e investigar como a crise climática e a urbanização acelerada podem modificar esses cenários.

O mar como aliado da longevidade
Em um mundo cada vez mais urbano e conectado, o contato com ambientes naturais, especialmente o litoral, parece ser uma peça chave para o aumento da qualidade e duração da vida humana. A ciência começa a desvendar o papel crucial que o ambiente exerce sobre nossa saúde física e mental.
Seja pela brisa fresca, pelo som relaxante das ondas ou pelo estímulo à atividade física, o mar oferece benefícios que vão muito além da beleza e do lazer — ele pode ser um verdadeiro aliado para uma vida mais longa e saudável.
Para quem busca melhorar sua qualidade de vida, o litoral é, sem dúvida, uma opção que vale a pena considerar. Afinal, não é apenas uma questão de localização geográfica, mas de saúde integral.
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