No 20º ano da Marni, Consuelo Castiglioni entrega a fórmula de suas coleções

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Com o acesso aberto aos bancos de desfiles a poucos cliques de qualquer interessado, cada um olha para o que quer (e enxerga o que gosta de ver) das passarelas. Dá pra fazer o “vi primeiro”, o “regramei primeiro” (importantíssimo nas últimas temporadas, ainda que o resultado seja um borrão), dá pra procurar pelas peças que se tornarão essenciais, pra julgar o trabalho das grifes em poucos minutos ou sair com uma lista de compra tão grande quanto o futuro saldo da fatura. O que dá pra fazer também é voltar às imagens e prestar um pouco mais de atenção a cada coisa, pra ir além da pressa superficial que todo mundo vive. Um desfile não dura só quinze minutos. Dá pra fazer as semanas de moda durarem muito mais tempo do que os 20 e poucos dias consecutivos da agenda oficial.

Eu preciso de tempo, por exemplo, para decifrar a sequência de looks que ganhou a passarela da Marni e ler tudo que tá pregado ali, em cada roupa (tem gente que mata mais rápido). O desfile não tá nos top 10’s mais legais, mas ganhou bravo de quem é seduzido pela dificuldade das roupas assinadas por Consuelo Castiglioni (e trabalhadas com o auxílio de toda a família). O case é bem específico: é uma empresa tocada pelos parentes (ela assina a direção criativa, o marido é CEO, o filho cuida dos outlets e a filha, do e-commerce), mas todo mundo responde ao grupo Only The Brave, capitaneado por Renzo Rosso, que levou a marca para o seu conglomerado (italiano) em 2012. A Marni já passou pelo seu grande momento de burburinho, mas cativa ainda uma boa quantidade de fãs pela moda feminina, cerebral (como todo mundo gosta de dizer), colorida e com expertise no uso de peles e couro (a Marni nasceu como um braço da empresa focada em peles de Gianni, marido de Consuelo), além de ter uma linha de acessórios das mais espertas (e desejadas) como base comercial.

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O verão 2015 ganhou um fator especial: foi dedicado à comemoração de seu 20º aniversário. Não poderia ter caído em temporada melhor. Antes da Marni entrar na passarela, cada uma das grifes importantes da semana de moda de Milão mostraram que estavam decididas a provar o valor criativo da moda italiana enquanto boa parte da imprensa ia de show em show questionando sua relevância. O instrumento de defesa foi consagrado com o desfile da Prada: vamos fazer melhor ainda o que fazemos de melhor (questão que pode até ser projetada pra temporada como um todo). Caso da Prada, da Dolce&Gabbana, da Moschino, de Roberto Cavalli. Ser novidadeiro não era o ponto. Criar e apresentar muito bem (e com muito produto) o que cada casa domina — os anos 70, inclusive, que foram resgatados por muitas, ajudam a fazer produto de verdade com cara de “tendência da vez”, mas isso é outro assunto.

Consuelo soltou a mão e, em uma leitura bem específica, foi como se ela quisesse compartilhar a fórmula que faz com que a Marni seja tão querida. Começa, claro, pelo o algodão de aspecto cru, nos rascunhos das formas que eram testadas nos bustos das primeiras modelos. Como uma manga se desenha? Qual é a melhor finalização para uma saia? A coleção era apresentada enquanto era construída. À medida em que as decisões foram firmadas, as peças ganharam os elementos seguintes: mangas, cores, os esboços das estampas em peças amplas, sem aperto (e granny-chic, como gostam muito de adjetivar a marca). No passo seguinte, mais especialidades : os tecidos que misturam tramas e texturas, as estampas de alta saturação, o styling supercarregado e superinteligente.

Enquanto cada look ganhava o desfile, os acessórios passavam pelo mesmo trajeto das roupas. Começaram simples, com bolsas pequenas mais máxicolares e sandálias de madeira. Ganharam, mais pra frente, formas e desenhos de flores coloridas usadas em looks que entravam sobre sandálias de solas altíssimas de borracha, imitando tênis. Alças, cordas e fivelas apareciam tanto nas bolsas quanto nas sandálias — algo só seria decorativo se fosse também utilitário. Em outra parte do corpo, um item das estampas viravam 3D nos cintos de folha única. Pra encerrar, os melhores looks tipo exercício de modelagem, com babados, pontas, fendas e aplicações todas dispostas de maneira nada óbvia (e muito legal!).

Só uma grife de idade madura, tão consciente de quais são os seus pontos fortes poderia dar uma aula-aberta como esta. Os curiosos que levam seus olhares para além da superfície só dão conta de tanto detalhe vendo e revendo os cliques. Todos contornos da coleção de verão 2015 da label, que mereceu cada aplauso recebido, passam desapercebidos nos resultados da busca por #Marni no Instagram. Vê quem quer, a hora que escolher, mas quanto antes, melhor.

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