Giorgio Armani vestiu policiais e taxistas italianos com a elegância de suas passarelas

Em um mundo onde a alta moda frequentemente se restringe a passarelas glamorosas e celebridades de Hollywood, Giorgio Armani se destaca como uma figura que transcende os limites tradicionais do luxo.

Aos 91 anos, o icônico designer italiano, que teve sua morte revelada nesta quinta-feira (04/09), conforme anunciado pela sua empresa, cravou seu nome na história da moda através de um império avaliado em bilhões de dólares, que continuou a influenciar não apenas o vestuário de alto luxo, mas também o cotidiano de quem encontrou em suas linhas e ideias inspiração para.o look de cada dia.

Sua história de mais de 50 anos na moda e nas fashion weeks é repleta de curiosidades de sua vida prolífica, e uma se sobressai pela sua inusitada natureza: Armani chegou a projetar uniformes para a polícia italiana e para taxistas de Milão, injetando sua visão às profissões.

Esta façanha, que mescla moda com funcionalidade pública, reflete o compromisso de Armani com a democratização do design e sua profunda conexão com a Itália.

Nascido em 11 de julho de 1934, em Piacenza, uma pequena cidade no norte da Itália, Giorgio Armani não seguiu um caminho linear para o estrelato fashion.

Filho de uma família modesta, ele inicialmente estudou medicina na Universidade de Milão, inspirado pelo romance “A Cidadela” de A.J. Cronin, mas abandonou o curso após dois anos para cumprir o serviço militar. Durante a Segunda Guerra Mundial, Armani sofreu ferimentos graves causados por uma mina, o que o hospitalizou por 40 dias e deixou sequelas permanentes na visão.

Após o exército, trabalhou como vitrinista e vendedor na loja de departamentos La Rinascente, em Milão, onde aprendeu os rudimentos do comércio de moda. Foi só em 1975, aos 40 anos, que fundou sua própria marca, Giorgio Armani, com o apoio de seu parceiro Sergio Galeotti, que faleceu em 1985.

Armani revolucionou a moda com seu estilo desconstruído: jaquetas sem forro rígido, tecidos fluidos e uma paleta de cores neutras que priorizavam o conforto sem sacrificar a elegância.

Seu império se expandiu para além da roupa, incluindo hotéis (como o Armani Hotel no Burj Khalifa, em Dubai), restaurantes, linhas de beleza e até um selo musical em colaboração com Matteo Ceccarini. Ele foi presidente do time de basquete Olimpia Milano e projetou interiores para o estádio do Chelsea FC. Com uma fortuna estimada em mais de 10 bilhões de euros, Armani foi um dos designers mais ricos do mundo e o segundo homem mais rico da Itália, atrás apenas de Giovanni Ferrero.

Mas o que torna a curiosidade sobre os uniformes policiais e de taxistas tão curiosa?

Em um país obcecado por estilo, Armani foi elevado ao status de “santo padroeiro da moda italiana”. Ele não apenas vestiu estrelas como Richard Gere em “Gigolô Americano” (1980), pioneirizando a parceria entre moda e cinema com mais de 250 filmes no currículo, mas também trouxe sua visão para o serviço público.

Os uniformes da polícia italiana, projetados por Armani, foram conhecidos por sua elegância impecável: linhas limpas, tecidos de alta qualidade e um toque de sofisticação que fez os oficiais parecerem saídos de uma campanha publicitária.

Da mesma forma, os taxistas de Milão receberam trajes com camisas, calças e jaquetas que combinavam praticidade com o inconfundível selo Armani. Essa iniciativa começou nos anos 1990 e 2000, quando Armani foi convidado pelo governo italiano a modernizar esses uniformes, refletindo sua crença de que a moda deve ser acessível e funcional para todos.

O impacto dessa contribuição foi além da estética. Em uma entrevista ao documentário “Made in Milan”, Armani afirmou que “a roupa é uma linguagem de comunicação e expressão individual, compartilhada por homens e mulheres”. Ao vestir policiais e taxistas, ele quis democratizar o que via como luxo, alinhando-se à sua decisão pioneira de banir modelos com índice de massa corporal abaixo de 18 de seus desfiles, promovendo uma imagem mais saudável da moda.

Críticos e admiradores veem nisso uma extensão de sua filosofia anti-fashion: “Eu sou anti-moda”, disse ele em uma rara entrevista, enfatizando a durabilidade sobre tendências passageiras. Essa abordagem o tornou uma figura reverenciada na Itália, onde até projetou a capa de um livro de evangelhos para o Papa, solidificando seu papel como embaixador cultural.

Não é exagero dizer que esses uniformes se tornaram um símbolo nacional. Turistas e moradores frequentemente comentavam sobre o quão “chiques” são os policiais italianos, com vídeos virais no TikTok e Instagram destacando o contraste com forças policiais de outros países.

Em 2024, um vídeo no YouTube intitulado “Who Designed These Fashionable Italian Police Uniforms” acumulou milhares de visualizações, atribuindo o crédito a Armani e celebrando sua criatividade. Para os taxistas de Milão, os uniformes representavam orgulho profissional, equiparando a ocupação ao patamar de elegância da grife.

Apesar de sua vida discreta – Armani nunca fuma, bebeu apenas uma vez (na boda de sua sobrinha Roberta, onde cantou “O Sole Mio” com Bryan Adams) e mantém sua bissexualidade em privacidade –, ele foi um perfeccionista notório.

Em uma entrevista à Vogue, confessou ser “10 vezes pior” que Tom Ford nesse aspecto, sempre vestindo um “uniforme” pessoal de tons navy. Sua empresa familiar inclui sua irmã Rosanna e sobrinhos em cargos chave, e ele nunca contraiu dívidas, financiando o início da marca com a venda de seu Volkswagen Beetle.

Recentemente, em julho de 2025, Armani completou 91 anos e, pela primeira vez, ausentou-se de um de seus desfiles devido a uma internação hospitalar breve. A notícia de sua morte causou comoção no segmento da moda e da cultura, dada a importância de seu legado e influência ao longo dos anos. A causa da morte não foi divulgada.

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