Cannes 2017: Kristen Stewart mergulha de cabeça (raspada) com “Come Swim”

A vida de uma atriz jovem alçada ao sucesso com filmes tão marcantes foi o melhor, mas também o pior, pontapé inicial na carreira de Kristen Stewart. Fácil de entender: boa porque a jogou ao estrelato, ruim por todos os efeitos colaterais de tal projeção, contra os quais ela tenta romper há anos ao dedicar-se a projetos cada vez mais desafiadores.

Muitos deles passaram por Cannes. Como atriz, ela acumula quatro edições no histórico, mas Kristen “diretora de filme” no festival é novidade deste 2017. Ela estreia atrás da câmera com o curta-metragem Come Swim, que também leva sua assinatura no roteiro.

Em dezoito minutos, o filme traça um paralelo entre consciente e inconsciente de seu personagem principal iniciado com take lindo e lento da segunda protagonista da história, a água (no começo, do mar). A narrativa é poética e visceral, alterna entre sussurros apaixonados e aridez do corpo e da mente. Vai do afogamento à sede extrema em jogo inteligente de contradições que constrói a breve história vivida pelo ator Josh Kaye, praticamente sozinho em cena por todo o filme.

O começo é tenso, agressivo e assustador; a segunda metade é direta, realista e catártica. Ambas desenvolvidas com mão livre de cinematografia e, ao mesmo tempo, execução precisa (surpreendente) sob o olhar de Stewart. Dualidade é palavra-chave.

Ainda que a produção seja desconectada da faceta pública de sua criadora, não é difícil aventurar-se numa projeção. Ilustro com a moda: pense na linha do tempo de estilo formada por cada uma das suas aparições em Cannes e compare a primeira pose no tapete vermelho da Croisette com a atitude deliciosamente ousada do Chanel (mais cabeça raspada) desfilado na noite do último sábado (20.05). Aí, compare com o embate entre uma trajetória profissional sufocante versus a liberdade de um pulo desconcertado, mas revigorante no mar como o que encerra o filme.

Cannes teve um papel fundamental em construir o status estrelado de Kristen – por ele, passaram quase todos os seus principais filmes mais corajosos. Nada mais justo que seu début como autora, um mergulho de cabeça, deixe sua marca por aqui.

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Em tempo: o filme foi produzido em parceria com o Refinery 29 Studios, braço audiovisual da plataforma focada no olhar e no empoderamento femininos, da moda à sétima arte, conduzida por Piera Gelardi, uma de suas fundadores a quem ouvi dois dias antes na The Next Web Conference, em Amsterdã. Contarei mais em breve!

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