Com luz, mas sem brilho: o inverno 2015 masculino (e o pre-fall delas) da Prada

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Opinar sobre opinião é complicado porque te coloca numa encruzilhada. Vamos começar pelos fatos: Miuccia Prada levou à passarela uma coleção masculina num cenário cheio de luz, mas sem brilho nas roupas. Na temporada que desfila na rabeira do prejuízo, o inverno 2015 da grife foi tomado por roupas prontas para desembarcar nos closets sem escalas. Faltou fulgor, mas nada aqui faria feio na vida real. Além do saldo negativo, a Prada está em processo de transferência da sede de Luxemburgo, para onde foi com outras grifes procurar atrativos fiscais, de volta à Milão, onde foi fundada por Mario e Martino Prada.

Em 1979, Miuccia renovou os produtos da casa de artigos de couro da família com uma linha de mochilas de náilon; depois vieram as bolsas, antes mesmo de levar provocações teóricas para a linha de roupas, lançada dez anos depois. Agora, o material voltou com vontade. Com convite de náilon embrulhado em um envelope igual mais uma sequência de looks sisudos de camisas e jaquetas que abriram o show, fica fácil entender o recado. O tecido sintético é prático: funciona bem no inverno, é resistente, não molha, mantém o calor do corpo isolado das temperaturas baixas. O aspecto reluzente reforça a impressão do futuro espacial do cenário da vez — náilon serve também como um dos materiais dos trajes de astronautas. Teve looks femininos, já que a marca aproveita o show na MMFW para exibir o pre-fall delas. Foram tão fechados quanto os deles, com looks de alfaiataria em cópia, estilo casalzinho, e outros de referências e tecidos deles. Ainda assim, parece firula engatar numa conversa de gêneros cruzados desta vez — a própria Miuccia já levantou essa discussão de maneira mais forte em seu inesquecível masculino de inverno 2008.

A gente lê por aí de tudo um pouco: “usaria tudo, não gostei de nada, parece tudo igual, faltou emoção”; opinião é supervalorizada hoje em dia (olha o nó aqui, já que a minha também seria). Só que quando uma grife alcança o status da Prada, é preciso um esforço extra para deixar tantas vozes de lado. A interpretação do que essas roupas (as luzes do cenário, a trilha) significam para a moda e o porquê essa mensagem é relevante para um de seus players mais poderosos pode ser um papo mais importante (e interessante). Esse tipo de leitura ainda passa por uma lente pessoal, claro, mas de forma menos carregada do que “não curti”.

Tento aqui então. No ano passado, a Prada se esforçou para revelar o seu processo; o verão 2015 das mulheres foi um exercício de possibilidades em tecidos e uma abertura (ainda que idealizada) da construção das roupas, com barras desfeitas e costuras aparentes. Aquele foi sobre o processo. O rumo mudou — e será refletido no desfile feminino em março. Um inverno focado em reeditar a alfaiataria minimal com cara de moderna, os utilitários de náilon e os sapatos híbridos — tênis seguram boa parte das vendas da grife –, tornam a mensagem bem clara: este aqui é sobre os produtos. Curti!

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