Não é meu só o desânimo com tapete vermelhos que não sejam o Oscar. Nas premiações intermediárias, os nomes não tão famosos precisam passar por várias barreiras para chegar ao look que lhe garanta a atenção na dose que eu julgo perfeita: um pouquinho de fashionismo exagerado, beleza impecável, acessórios na medida (geralmente acho que menos é mais, mas se for pra ser mais que seja muito mais), todos somados pra uma presença de estrela de verdade (que, geralmente, esses eventos simplesmente não têm). A Vanessa Friedman, do NY Times, deu a dica na segunda pós-VMA e pré-Emmy que, parafraseando, um look ousado (e errado) ainda vale mais do que um mar de longos sereia. Eu concordo.
Vide o caso do VMA 2014 deste ano. Depois do susto e a repercussão bombada da Miley no ano passado, a entrega de prêmios da MTV americana, famosa por momentos “arrebatadores”, se beneficiou de tanta atenção. A lista de convidados ficou mais poderosa (depois de anos meio no esquecimento de nomes grandes “de verdade” e não só do rolê Victoria-quem-Justice). O resultado são looks mais absurdos, principalmente pra quem não é reconhecido e precisa disputar os twitts, instas e links em real-time com a já consolidada pervice da Jennifer Lopez ou com o barulho tween da Taylor Swift.
A noite serviu pra relembrar, um pouquinho só, os momentos do show de glória pop com nudez, cafonice e a aposentadoria (ainda que temporária) dos stylists que querem que todo mundo seja tão fashionista do tipo sem personalidade, com o look “elegante” (da marca que ninguém conhece, já que produzir na Saint Laurent é difícil), sem risco. Esse clima de revival foi literal mesmo, com as homenagens de Amber Rose ao não-look inesquecível de Rose McGowan e Katy Perry mais Riff Raff fazendo a Britney e Justin jeans de 2001. No final, a gente nem lembra mais quem era bem-vestida de verdade (Nicki Minaj, Gwen Stefani, Joan Smalls, Solange), quem era perva divertida (Jennifer Lopez, Kim peitos Kardashian) e quem só queria causar (Amber Rose, Ireland Baldwin de couro com a namorada, também de couro, Taylor Swift, Katy e Riff). Tudo bem; no final do VMA o que conta é a diversão devidamente twittada e facebookada enquanto qualquer banda tween toca no palco do prêmio (alguém sabe quem levou alguma estatueta de alguma coisa?).
No Emmy 2014, a coisa é mais séria, claro. Afinal, são pessoas que serão reconhecidas pelo talento na telinha ao longo do último ano, mais memoráveis pelas personalidades que encarnam nas séries e programas do qual são parte do que por seus próprios nomes. O jogo do tapete vermelho é outro. Os stylists enfrentam guerra pra conseguirem looks que os nomes de seus clientes (não-famosos) ainda não lhe garantem ou para roubar mesmo o longo que pode acabar na latina corpulenta e chamar muito mais a atenção do que a loira tão, mas tão magra. E mais: entram parcerias de tino muito mais comercial, contratos feitos sob os panos de grifes e joalherias que garantem os nomes mais quentes da vez com dinheiro e aquele tipo de look que a gente vê que não tá muito certo, mas era o que tinha que ser usado.
Na falta de paciência pra semi-fashionista, meus olhos me traem e brincam comigo: na primeira passada de olhos em qualquer galeria de looks, eles querem que meu cérebro compute apenas os looks mais “desacertados”, porque um erro fashion por ousadia demais denota mais personalidade do que qualquer looks em tom nude com cristais bordados (sério). Aí, o amarelo de ficar cego com peplum da Kate Walsh (Stephanie Rolland, rainha das famosos que querem ser avant-garde na moda, mas que não conhecem mais nada), o floral borrado da Julie Bowen (Peter Som), o decote de maiô da Lizzy Caplan (Vera Wang), o couture curto da Julia Roberts (Elie Saab) e até o laranja da Kerry Washington (Prada) dão de dez a zero em qualquer look apropriado e mediano que mereça, em teoria, mais elogios do que estes listados.
O jogo de um tapete vermelho sério, onde o que as estrelas vestem lhes agregam valor, acaba às avessas: as mais corretas ganham muito menos pontos de personalidade do que os nomes que tentam qualquer diferença (e sim, aqui vale qual-quer arrombo fashion, não estamos nem pedindo pra elas efetivamente serem antenadas com o que realmente acontece nas modas). E eu acabo sendo o tonto que gosta do look da Lena Dunham (Giambattista Valli couture).