A Rodarte viajou e apresentou seu inverno 2019 em Los Angeles, sob a sombra cinematográfica da cidade que faz a moda brilhar com holofotes e flashes, mas custa a bancar a pose de fashionista para além de seu star system. A imagem do que é fashion parece tão parada no tempo por ali que até Tyra Banks acaba de anunciar um parque de diversões tipo “modelo-lândia” na cidade. As grifes viajam até lá atrás das estrelas. Só que se Tom Ford foi à caça das glamourosas e Hedi Slimane tentou fisgar suas alternativas, Kate e Laura Mulleavy escolheram personas imortalizadas nas telas por nomes como Ginger Rogers, Cyd Charisse, Natalie Wood ou Liza Minnelli, em versões hipersaturadas, para a aventura (um tantinho clichê apesar da ligação das duas com o cinema) na costa oeste.
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E olha que elas são de lá! Kate e Laura cresceram em Pasadena e são já famosas as histórias dos vestidos terminados do chão da propriedade da família antes de cruzarem passarelas nova-iorquinas. Na capital da moda norte-americana, eles ganhavam mais do que legítimas credenciais fashionistas, já que a passarela na cidade puxava ao chão a moda dos sonhos da dupla – pense nos vestidos de tule sinuosos com rastros de vermelho-sangue na coleção mais famosa da marca, no closet de quem faz bonito no bar, na pista ou nas ruas das coleções do começo dos 2010’s ou até mesmo, se quiser dar uma forçadinha, na homenagem às mulheres de uma das cidades mexicanas mais violentas de um tal desfile-problema.
Não tem mais. Tanto em Paris quanto agora na “cidade dos anjos”, as cabeças seguem lá nas nuvens para interpretar em tule, bordado, renda e babados gigantes faceta conhecida que é bonito, gracioso, grandioso ou delicado. Tem um pouco de irreverência, mas sem um pingo de ironia. Ainda por cima, acontece que, por mais incríveis que sejam os elementos românticos de tempos atrás, por si só eles carregam zero vigor para desfilar impunes pelo presente. Daria até pra dizer que é otimista, mas a coleção anterior cumpriu a função de maneira mais inteligente. Aqui, ficou na fantasia; teve tanto, mas ao mesmo tempo faltou muito.
Fixar-se no passado é perigoso pra moda, tanto na hora de cobrar que marcas sejam o que não são mais quanto ao observar o pé amarrado a conceitos que, por mais valiosos que tenham sido, ficaram para trás. À frente, a label olha para si mesmo com “novos olhos antigos”: se antes ainda tentava fazer roupa de grife para modernas da Opening Ceremony, o caminho virou faz algumas temporadas com tudo para a moda festa. Entra o preciosismo de ateliê, sai a inteligência de rua que contra-balanceava tão espertamente os devaneios criativos das irmãs. Tomando liberdade aqui, pensa na Chanel de hoje, só que tira a tradição, as bolsas e o budget.
Com “apenas” 15 anos de marca, os looks da dupla Mulleavy já foram até parar no museu, com mostra-retrospectiva recente (e um tanto cedo demais?) que só elevou ainda mais o patamar da grife. Ela tentaram responder à altura na primeira coleção após a homenagem, só que aí… quanto mais alto, maior o tombo? Volta pra rua, Rodarte!