O casting do desfile cujo registro você vê acima conta com uma novidade difícil de identificar prontamente. Inclui modelos do tipo “homens reais” parte do contingente de refugiados vindos de países da África que buscam asilo na Itália. A ação foi fruto da parceria entre a IHT Ethical Fashion Initiative, joint agency das Nações Unidas com a Organização Mundial do Comércio, e a Lai-momo, cooperativa italiana que visa a integração social e profissional de imigrantes de países do continente africano, do Caribe e de países da costa do Pacífico. Foi apresentada em um galpão industrial na apresentação do projeto Generation Africa em Florença, nos arredores da feira Pitti Uomo, no último 14.01.
Os modelos estreantes do show não foram identificados isoladamente. Tornaram-se assim parte legítima da equipe envolvida no desfile. Parece pouco, mas a iniciativa coloca a moda como agente ativo frente a realidade que a cerca. Firma um exemplo de miscigenação orgânica de fato, e não apenas midiática, que abre o leque de possibilidades para a atuação do segmento pela causa.
O desfile recebeu quatro designers da África do Sul e da Nigéria. O multiculturalismo africano tem história recente na moda marcada por denúncias de apropriação cultural, mas aqui o olhar era de dentro pra fora. Além de valorizarem o que define o estilo de seus países e recodificá-lo pela apropriação de códigos da moda global, as marcas selecionadas também estavam unidas pela atenção aos meios de produção de cadeia responsável e pela capacitação de mão-de-obra especializada nas regiões de origem.
Cores, riquezas decorativista e prints gráficos, elementos associados repetidamente ao complexo continente africano, ganharam a passarela, mas sob o olhar esperto de designers conectados com o que pede a nova moda masculina. Alfaiataria relaxada, inspiração nos uniformes militares, streetwear amplo com estampas caleidoscópicas e aplicações focadas de peles e bordados foram apostas em comum vistas tanto no desfile do projeto quanto nas araras de marcas consolidadas da feira de moda masculina adjacente. Desta edição, a segunda da empreitada, participaram as marcas AKJP, Ikiré Jones, a parceria entre os designers Lukhanyo Mdingi x Nicholas Coutts e U.Mi-1. O desfile completo de cada uma delas você encontra na galeria logo abaixo.
AKJP
Publicado por Traum em Sábado, 16 de janeiro de 2016