Não é fácil ser sexy. As divisões entre bom gosto, corpo à mostra e elegância não são claras, além de serem redefinidas a cada temporada ou a cada aparição da modelo que tem um talento nato para provocar na medida exata que uma fashionista gosta. Ainda assim, em tempos de loucura fitness/healthy, um look provocante vira recompensa de tanto esforço atrás do corpão. O desafio, além de físico, é estético também: o que define o potencial sexy de um vestido? A abertura do decote ou da fenda? A modelagem justa? A segurança de quem o veste é suficiente?
Na temporada internacional de verão 2015, essa questão apareceu assim que um look bem específico ganhou a passsarela: a entrada de tricô do desfile de Stella McCartney, um vestido de lâ orgânica na altura da canela, sem mangas ou apertos e com duas porções vazadas no quadril. Fácil, com inteligência eco, apresentado às 10hs da manhã de uma segunda-feira fashionista em Paris, fazendo companhia aos looks pijama e aos jeans molengas que poucas não desejariam usar, de fato, numa segunda de manhã.
O sexy é ferramenta certa para alavancar vendas, isso não é novidade. Em uma temporada marcada por coleções não emocionantes, que tanta gente chamou de comportada e focada em produtos (revisitar os anos 70 é ótimo para desfilar “roupa de verdade” com cara de moda como ternos e macacões, todos ready-to-sell), grifes com radares mais espertos repensaram o look sexy para sair na frente (dos flashes). O resultado mais legal que encontrei foi o foco em zonas erógenas não habituais. Ainda que não seja novidade, quem fez ganhou pontos pela impressão maior de frescor – estético e prático. Tem muita oferta boa: dos flashes da lateral da cintura na Céline, na Dior ou nos coletes perfecto do JW Anderson aos paletós abertos sem nada (ou com muito pouco) por baixo ressaltando a longa faixa frontal do torso como na Lanvin ou os tops “Kim Kardashian” da Givenchy. Dos cortes transversais do corpo nos vestidos purpurinados de festa da Versace ao longo comportado com um único recorte no quadril da nova Mugler (ou seus maiôs). Das saias assimétricas do Vaccarello desenhadas em novo eixo, com recorte das pernas que destaca a parte lateral mais alta de uma das coxas aos ombros sob as luzes do disco club da Saint Laurent. Pensa até no tanto de pele à por debaixo da alfaiataria (gênia) desabada do desfile de Yohji Yamamoto.
É difícil se animar com um look desconfortavelmente sexy hoje em dia, então por mais sugestiva que seja, a sensualidade desses exemplos não parece forçada. Um ponto-contraponto nítido ganhou a passarela da Balmain: o blazer torcido com porções vazadas (que vieram de uma coleção Givenchy do Alexander McQueen) é uma alternativa boa pra quem pode “cortar” o terno. Já os corpaços enjaulados do bloco mais glamazon agrada mais a quem prefere só imagem. Ver o corpaço da Alessandra Ambrosio preso em um desses modelos (aqui) não desce bem, também por parecer desconfortável.
Semanas depois dos desfiles caiu sem querer no meu dashboard do Tumblr uma série de fotos perfeita para ilustrar o assunto. Impression, do americano Justin Bartels, mostra o efeito dos apertos de lingeries, corseletes e sapatos que têm a função de alterar ou realçar diferentes partes do corpo (muito relacionado ao desejo de parecer sexy). Um look forçado, que ganha pelo incômodo, é algo que não tem como ser ainda mais datado na vida real. Se é culto ao corpo o que vale, que as roupas pelo menos o trate bem; sofrimento já basta o da academia.