A história da Ilha Fiscal, locação do aniversário de Bruna Marquezine

A Ilha Fiscal é uma pequena ilha artificial localizada na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, fronteira ao centro histórico da cidade.

Originalmente conhecida como Ilha dos Ratos, devido à presença de roedores em depósitos de pólvora ali armazenados no século XVIII, ela ganhou notoriedade no século XIX como posto alfandegário e, posteriormente, como palco de eventos históricos significativos.

Na noite de sexta-feira (15/8), o destino voltou às manchetes por receber a festa de aniversário de 30 anos da atriz Bruna Marquezine, repleta de atrações e convidados famosos, como Juliette, Anitta, MC Daniel, João Guilherme, Agatha Moreira, entre outros.

Com uma área de cerca de 7 mil m² (após aterros que expandiram os originais 4.400 m²), a ilha abriga um palacete em estilo neogótico-provençal, inspirado nas obras do arquiteto francês Eugène Viollet-le-Duc, e é considerada uma das construções mais elegantes do Rio de Janeiro, com vistas para a Serra do Mar, o Pão de Açúcar e o Corcovado. Sua história abrange desde a construção no final do Império Brasileiro até seu papel atual como atração turística e cultural administrada pela Marinha do Brasil.

A seguir, conheça de forma completa e cronológica sua trajetória, baseada em fontes históricas e oficiais.

Origens e construção da Ilha Fiscal (Século XIX)

A ideia de transformar a Ilha dos Ratos em um posto fiscal surgiu na década de 1850, durante o Império do Brasil, para melhor controlar as mercadorias que entravam e saíam do porto do Rio de Janeiro, então capital do país.

Em 1854, um posto da Guarda Fiscal já operava no local, fiscalizando embarcações. No entanto, a construção do edifício principal foi impulsionada pelo Conselheiro José Antônio Saraiva, ministro da Fazenda, que solicitou uma estrutura mais adequada. O Imperador Dom Pedro II, entusiasta da arquitetura, interveio pessoalmente na escolha do estilo, optando por um “château” gótico-provençal em vez de uma construção simples, descrevendo a ilha como “um delicado estojo, digno de uma brilhante joia” pela beleza da paisagem circundante.

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O projeto foi encomendado ao engenheiro Adolfo José Del Vecchio, Diretor de Obras do Ministério da Fazenda, que o apresentou em 1881. As obras iniciaram-se com a assentação da primeira pedra em 16 de novembro de 1881, incluindo aterros para ampliar a ilha e a construção do palacete, que ocuparia um terço da área total.

O edifício, com 68 metros de frente, 28 de fundos e 53 metros de altura no torreão central, utilizou cantaria de gnaisse extraído localmente, elementos como agulhas pontiagudas, abóbadas ogivais e vitrais coloridos a fogo importados da Alemanha, retratando figuras imperiais como Dom Pedro II e a Princesa Isabel, ladeados por brasões. O torreão incluía um relógio alemão da Krussmann e Cia., com faces iluminadas para observações noturnas, e o piso da sacada era em marchetaria com 14 espécies de madeiras brasileiras, formando mosaicos como a Rosa dos Ventos.

O paisagismo contou com coqueiros plantados pelo próprio Del Vecchio. As obras custaram inicialmente 40:5$500 réis, mas o total chegou a 1.051:322$584 réis ao final, em 1892, e o projeto rendeu a Del Vecchio uma Medalha de Ouro na Academia Imperial de Belas Artes.

Inauguração e o último Baile do Império (1889)

O palacete foi inaugurado em 27 de abril de 1889, com a presença de Dom Pedro II, do Conde d’Eu (Gastão de Orleans) e de uma comitiva imperial. O translado até a ilha foi feito pela galeota imperial, embarcação histórica de Dom João VI. Inicialmente, o edifício serviu como sede da alfândega, fiscalizando o porto.

Apenas seis meses depois, em 9 de novembro de 1889 (um sábado), a ilha sediou o famoso Baile da Ilha Fiscal, conhecido como “O Último Baile do Império”.

Organizado em homenagem aos oficiais do navio chileno Almirante Cochrane, o evento reuniu cerca de 4 mil convidados da elite imperial, incluindo o Imperador, a Princesa Isabel e figuras como Machado de Assis. A festa, com decoração luxuosa, música, jantar e fogos de artifício, custou uma fortuna e simbolizou o apogeu da monarquia, mas ocorreu às vésperas do golpe republicano. Apenas seis dias depois, em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República, pondo fim ao Império.

Período republicano inicial e danos (1890-1913)

Com a República, a ilha continuou como posto fiscal, mas enfrentou desafios. Logo após a proclamação, revolucionários como Rui Barbosa, Aristides Lobo e Quintino Bocaiúva discutiram remover símbolos imperiais, como o brasão da Casa de Bragança nos vitrais. No entanto, Del Vecchio defendeu sua preservação como obra de arte, e eles foram mantidos.

Em 6 de setembro de 1893, durante a Revolta da Armada (1893-1894), liderada pelo almirante Custódio de Mello contra o presidente Floriano Peixoto, a ilha foi bombardeada, sofrendo danos significativos: paredes perfuradas, agulhas de ferro derrubadas, vitrais avariados e marcas na fachada que ainda são visíveis discretamente. Apesar disso, a estrutura resistiu.

Transferência para a Marinha e usos militares (1913-1998)

Em 1913, por sugestão do deputado Miguel R. Galvão, a ilha foi transferida do Ministério da Fazenda para a Marinha do Brasil, em troca do vapor Andrada, proposta aceita pelo almirante Alexandrino Faria de Alencar e pelo ministro Rivadávia Correia.

A partir de 1914, abrigou repartições como a de Faróis, Hidrografia e Meteorologia, e mais tarde a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), que se mudou para Niterói em 1983. Em 1930, um molhe de concreto a ligou à Ilha das Cobras, formando uma única massa geográfica. O último órgão militar foi o Grupamento de Navios Hidroceanográficos, até março de 1998.

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Tombamento, restaurações e tansformação em espaço cultural

Em 1990, o edifício foi tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro como patrimônio histórico. A partir de 1998, a Marinha abriu a ilha ao público como parte do Complexo Cultural da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), transformando-a em museu e espaço cultural. As salas expositivas narram a construção, o baile imperial e a ocupação pela Marinha, com destaque para a galeota imperial (embarcação de Dom João VI) e réplicas de quadros como “O Último Baile da Ilha Fiscal” (1907), de Cadmo Fausto de Souza. 0 15

Restaurações significativas ocorreram a partir de 2001, coordenadas pelo IPHAN, incluindo recuperação de pinturas no teto e paredes, mosaicos do piso do torreão e o piso de madeira original. Em 2006, uma parceria com a BR Distribuidora instalou iluminação especial.

Em 2021-2023, uma reforma de um ano e meio, custando R$ 3,4 milhões (financiada pela Lei Rouanet e emendas parlamentares), focou na estrutura: vigas e pilares do piso (com ferragens expostas), repintura da fachada (mantendo a cor original com tinta especial) e demolição de anexos modernos. Supervisionada pelo Inepac, evitou um possível desabamento e permitiu a reexposição da galeota imperial, fechada desde 2014. A ilha reabriu em 8 de julho de 2023.

Em 2025, a Ilha Fiscal permanece como uma das principais atrações turísticas do Rio, administrada pela Marinha.

Funciona como espaço cultural, oferecendo visitas guiadas (cerca de 20 minutos de acesso por embarcação ou micro-ônibus), eventos como chás da tarde, visitas encenadas e locação para eventos corporativos, cujos recursos ajudam na manutenção.

O ingresso custa R$ 60 (inteira), disponível online ou na bilheteria do Espaço Cultural da Marinha. Mantém a pavimentação original em paralelepípedo e acessibilidade limitada devido à arquitetura histórica, com preocupações contínuas sobre os vitrais originais, restaurados por gerações de uma mesma família, devido à proximidade com o Aeroporto Santos Dumont. É um elo vivo entre o passado imperial e o presente, conectando visitantes à história do Brasil.

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