A maior parte de público fashionista não conhecia o nome de Ruth Wilson quando ela chegou ao Globo de Ouro com look Prada, num vestido longo, verde, marcado por costuras sem acabamento. Horas depois, Ruth subia ao palco para levar o prêmio por sua atuação na série The Affair, lançamento do ano anterior do canal Showtime; ela voltaria mais tarde junto com elenco e produtores para a estatueta de melhor série – drama no final da noite. Na hora do discurso de Ruth, achei o papo bom; decidi que queria conhecer a série já que ela desbancava favoritas: Claire Danes, de Homeland, Julianna Margulies, de The Good Wife, e Robin Wright, de House of Cards. Quando o primeiro episódio acabou, aquele look Prada não era mais o mesmo. Apesar de manter o meu top 10, Wilson virou a pessoa mais interessante da turma de 2015.
Uma escolha de red carpet pode ser apenas um look que merece ser julgado pela primeira impressão — a de Ruth não foi unânime. Pode ser algo maior também. Mais do que aparição grifada, arrombo fashion ou escolha de stylist bom, tem casos em que cada elemento necessário para um nome se projetar como a estrela que quer ser é alinhado de maneira especial. A moda é cada vez mais importante para a carreira de uma atriz nesse patamar e o tapete vermelho consegue, pra quem gostar de observar, refletir várias características: o momento da carreira, o timing de um trabalho de grande projeção, a disponibilidade para entrar no jogo fashionista, a escolha pelo caminho menos óbvio e a potência de seu talento.
Ruth, nas telas, desponta como Allison em The Affair. A série é boa: um olhar sensível e dividido sobre o caso de um homem de família e a garçonete que conhece em uma viagem de verão. A personagem é complexa, marcada por uma perda irreparável que, depois de anos, ainda deixa cicatrizes emocionais e físicas — a estrutura do seriado favorece ainda mais o seu talento. A lista de créditos anteriores da atriz destaca a atuação na televisão, de Jane Eyre, minissérie da BBC que lhe garantiu a primeira indicação ao Globo de Ouro em 2007, a Suburban Shootout, uma espécie de Desperate Housewives britânico. Antes dos primeiros features de maior orçamento no cinema, Ruth dedicava-se ao teatro; a atenção da imprensa veio com Anna Christie, onde dividia a cena com Jude Law; depois do GdO ela voltou ao palco, ao lado de Jake Gylenhaal na peça Constellations. Em 2014, duas turnês promocionais de longa-metragens foram os primeiros desafios de estilo tipo “atriz de cinema”. Ao abrir o arquivo de looks, boas surpresas, grandes marcas e alguns desacertos: dos diferentes looks Dior a Balenciaga e Stella McCartney, passando por ousadias como o terninho máxitudo desfilado no BAFTA ou etiquetas de nomes mais recentes como Erdem, Christopher Kane e Mary Katrantzou. Disposição fashionista ela tem.
“Eu sempre vestia o que sobrava dos meus irmãos mais velhos; beleza não era uma qualidade supervalorizada em nossa casa. Este vestido é bom porque deixa com que eu ande sem dificuldades”, disse Ruth à primeira pergunta de moda no pressroom do Globo de Ouro. Depois dos flashes da premiação, encarou novo degrau na ascensão à fashionista de primeira, um editorial (de capa) da revista The Edit, do e-commerce Net-a-Porter, que aproveitou o porte estatuesco de Ruth para lhe vestir com produções de efeito — o clique principal foi parar, com elogios, no instagram de Stefano Gabbana. Pequenos detalhes, sim, mas que indicam o começo de sua aceitação pela turma da moda; o vestido verde esquisito só ajudou a lhe dar posicionamento.
Há casos em que um look de tapete vermelho não merece ficar só no nível do ‘gostei, não gostei’ ou ‘o caimento não favorece a silhueta’ (ZzZz). Pode ganhar uma leitura mais detalhada (ou, pelo menos, uma segunda passada de olho). Feito isso, deixo o nome de Ruth Wilson como aposta do ano, indiciada à categoria que acabo de criar: “Grande Prêmio Cate Blanchett de Atriz Boa e Fashionista”. Depois de uma maratona de The Affair em dois dias, a impressão daquele look Prada mudou pra mim. Veja se a minha ajuda faz algo para você também.