Triunfo histórico do Raf Simons em sua etiqueta masculina é a investigação da juventude há 20 anos, desde o lançamento da marca homônima. Na temporada em que jovem é aposto e aposta quentes, o estilista belga confirma a pole position na corrida das narrativas que vêm da passarela — jovem mesmo foi seu inverno 2015, apresentado em janeiro deste ano. O caminho do verão 2016, apresentado na quarta (25.06), é evolutivo e a pergunta agora é outra: na hora em que a juventude começa a se desgastar, o que acontece com a turma de meninos do jaleco assinado pelos amigos?
A ideia de gangue foi uma das levantadas por quem assimila tudo de forma rápida sobre a aparência forte do time que ganhou a passarela desta vez — “capuzes são usados como um emblema contemporâneo para a juventude truculenta”, soltou Tim Blanks (afiado nesta temporada que tem vários disparos ótimos). Sugiro uma outra: a impressão de que os efeitos do tempo são tão problemáticos quanto a representação do que é jovem. Ou melhor, a noção de que o processo de envelhecimento é cruel para quem o vive, falando não só dos efeitos físicos da idade avançada, mas também da transição da fase de inúmeras possibilidades da pouca idade para a etapa intermediária da vida adulta.
Há pouco tempo, um op-ed do NY Times abordou, como essa transformação acontece; engato este link com a coleção. A aparência pueril dos tricôs curtinhos quase colegiais, dos tons de uniformes e dos casacos de laboratório do inverno passado foi extenuada: as barras foram mais desfeitas, os desgastes formaram mais buracos… Dá pra enxergar a indigência (ainda que em sua versão mais luxuosa) destes meninos, com tops em camadas irregulares, jaquetas protetoras, bolsas acorrentadas, calças-tenda e os tais capuzes ligados às camisas rasgadas pela metade. O formato da apresentação remete às mais questionadoras do Raf, reforçando a intenção de um pensamento crítico. A mensagem não parece das mais otimistas no saldo final, mas é importantíssimo aqui o efeito de leitura e alerta, ao mesmo tempo, sobre nossos tempos.
O melhor de um papo como este é que ele é aberto para quem quiser acompanhar com atenção; recomendo a leitura, além do Tim Blanks, da Lou Stoppard, que aproveita a referência oficial (o curta “Fiorucci Made Me Hardcore”, que dá para assistir aqui) para linkar a coleção ao enfraquecimento da cena noturna (jovem) britânica. O gostoso de bater num desfile como este é aproveitar o estímulo ao raciocínio fashion (que não se apegue somente à experiência superficial que as casas de luxo empurram para os convidados). Queria ler mais palavras de interessados, quem tem? A gente pode até formar uma gangue.