Entre longos que andavam na linha perigosa entre temático versus ofensivo e pirações fashionistas às quais o gala do Anna Wintour Costume Center do Metropolitan Museum de Nova York (vulgo gala do “Métxi”) tem direito, Rihanna causou comoção desde a entrada do evento na noite dessa segunda (04.05). A visão, ao longe, era a de uma pessoa minúscula, um casacão dono de uma cauda de efeito mais três pessoas auxiliando a movimentação dos envolvidos.
O look é do tipo sensação — e amplitude tem virado termo fixo no vocabulário de estilo da popstar —, mas passada a empolgação, tem duas histórias que merecem sair de baixo dos panos. A primeira é o nome que assina o longo (mesmo): a estilista Guo Pei, único nome chinês vestido, com orgulho, por uma famosa de porte similar ao de Rihanna. Apelidada como “a Dior da China“, ela é famosa por looks trabalhados que acumulam cinco, seis dezenas de horas para ficarem prontos. O de Rihanna, como a própria contou à Vanity Fair durante sua chegada, levou dois anos de trabalho (e foi caçado pela própria por pesquisas na internet). O apreço pelas roupas que prepara lhe garantiu dois spots da exposição China: Through The Looking Glass, a mostra que o gala celebra na noite estrelada; ela é um dos poucos talentos locais prestigiados no museu com um longo dourado que levou 50 mil horas para sua confecção (e se mostra em expansão: acaba de anunciar uma linha de beleza em parceria com a M.A.C.). Entre tanta fantasia ocidental, foi esta a produção que mais levou a sério o tema da noite e passou mais longe dos resquícios esquisitos de apropriação cultural.
É da atenção minuciosa à criação que vem a segunda história. A relação entre um olhar tão cuidadoso, que não abandona a tradição em seu processo criativo e de produção quase toda manual, em contraponto à imagem do país cuja indústria pasteuriza e barateia, a duras cargas de trabalho, qualquer que seja a indústria que passe por ali é uma discussão ótima a ser levantada com esta bola. Lembre que, na moda, são recorrentes os comentários sobre tecidos e roupas made in China em qualquer papo sobre concorrência de mercado ou processo ecologicamente e socialmente responsável.
O tema da exposição, com a justaposição do que é histórico com o que é contemporâneo, o que é original com o que é pastiche, o que é fonte e o que é referência, não é ingênuo; se reflete até mesmo na disposição de looks que cruzaram as escadas da festa. Quando isso é levantado de forma tão expressiva na mesma foto da roupa que vira meme por parecer uma pizza, o encontro entre celebridade, moda, representação, internet e tapete vermelho só fica melhor ainda.