VMA 2016: das superpoderosas do palco aos homens de estilo do hip hop

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Rihanna de rainha dark e look total Vetements

Beyoncé, Britney Spears e Rihanna marcaram a noite animada da premiação anual da MTV norte-americana, o VMA, nesse domingo (28.08); os três nomes da realeza do pop garantiram a lista vipona da festa que nasceu, originalmente, para premiar videoclipes quando estes ainda eram assistidos na televisão (hoje, até o canal que premia não os tem como prioridade; das três, Spears é a mais longeva).

Começo com o melhor das estrelas de primeiro porte: Beyoncé, a de maior status, repetiu a tradução da herança cultural negra que fundamenta seu Lemonade para performance e figurino barroco superdeluxe, vestido atualmente em cada parada da turnê; tanto o body quanto o look-sensação que escolheu para a chegada levaram assinatura de Francisco Scognamiglio (o primeiro longo saiu direto da estreia do italiano na alta costura). A performance ganhou também peles das mais ricas da Fendi, expert no assunto (uma luta por vez).

Já Rihanna, aproveitando a honraria do prêmio máximo, entregou um fichamento completo dos pilares de seu estilo, construído meticulosamente com o trabalho de respeito do stylist Mel Ottenberg (vale o pop-up: em 2001, foi Mel quem assinou o look dos dançarinos da apresentação famosa de Britney com a cobra). A receita inclui produções com o que há de mais legal no streetwear de etiquetas quentes (Vetements no bloco dark, Hood By Air na abertura em tons de pink), styling gangsta para o bloco de coreografia inspirada no nativo Barbados, de sensualidade que desafia ao invés de se oferecer ao olhar masculino, e fashionismo elevado à rihannésima potência com volume marcante, do jeito que ela gosta, para a entrada final (esta assinada por Alexandre Vauthier).

Beyoncé de Francisco Scognamglio e casaco Fendi

Nas horas antes do evento principal, a caçada foi difícil com tanto look do tipo “nu”, artifício favorito há anos para entradas sensuais. Você conhece o tipo: longos irritantemente transparentes (sejam ricos em pedrarias e bordados ou tipo ‘roupa-arrastão’) usados com lingerie por baixo. Quem fugiu dessa foi para um minimalismo 90’s mequetrefe, (Ariana Grande, Joan Smalls), nada dignos da projeção dos nomes das etiquetas (Alexander Wang, Off-White). Vale uma exceção divertida (ufa!): o moletom, com logo da dona da festa, usado pela ótima Tracee Ellis Ross, direto da coleção resort de Marc Jacobs.

Com neo-divas no piloto automático, os homens roubaram o foco. Espectadores (de redes sociais) que lembravam das festonas do início dos 2000 podem não saber, de imediato, um sucesso do Desiigner, mas, diferente de sua música, o terno Margiela (pelo menos) sugeria profundidade. Jaden Smith, adepto de produções que cruzam definições de gênero, garantiu mais um hit com o casaco Undercover de estampa de gatinhos.

Ainda que não imprimam aura de popstars, estes se esforçaram para expandir o repertório da moda masculina de rua. Future vestiu pink, o que soa como um tabu para fãs conservadores; imagine então um look que é creditado com foto de desfile feminino. Parece pouco, mas a autoconfiança de estilo ainda encontra resistência. Até Diddy, nome pioneiro do encontro do hip hop com a moda de etiqueta, teve que explicar ao apresentador do pré-show o quimono que vestia (“já usei tudo o que tenho!”, respondeu bem-humorado). Kanye optou pelo merchanwear desta vez, mas caprichou no acessório: o sorrisão que ganhava close a cada aparição. Vale a observação: imagem bem construída é ferramenta útil para consolidar representatividade, pauta quente da edição. 

Na noite em que as mulheres brilharam mesmo no palco – até Kim Kardashian, em close supersexy, parecia comedida (olha como os parâmetros são distorcidos aqui) no Galliano vintage que escolheu – coube aos homens mais seguros de suas particularidades a responsabilidade fashionista. (Uma ausência notável: a do rapper Young Thug, ícone recente do assunto). Tanta vaidade não era coisa de mulher? Não é, e faz tempo. Ainda bem que pensar assim está cada vez mais fora de moda.

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