Stefano Pilati encerra trajetória na Zegna com sonho de couture masculina

stefano-pilati-zegna-couture

“Chegamos ao consenso de que minha missão na grife foi cumprida”. É assim que, depois de semanas de boatos, Stefano Pilati se despede da direção criativa da Ermenegildo Zegna, posto que assumiu em 2013 depois de sua passagem pela Yves Saint Laurent. Fica como última coleção de Pilati no grupo o inverno 2016 da Ermenegildo Zegna Couture, apresentada em janeiro, na agenda da semana de moda masculina de Milão. Partindo de uma série de objetos preciosos vistos em exposição, Stefano levou a marca por um sonho de alta costura masculina para a coleção de maior arrombo fashionista desde sua primeira na casa.

12491882_10153721744401201_4984325997500662231_o

Nos cliques de passarela e nos detalhes vistos de perto no showroom da grife (que você acompanha na galeria abaixo), é fácil identificar os códigos da couture que ganharam reinterpretação para o universo deles. Pense nos números dos looks, como os que indicavam cada uma das entradas no salão das maisons francesas para guiar os pedidos das clientes. Aqui, eles pontuaram bolsas, chapéus e apareceram como badges nas mangas do casting. Sob investigação mais detalhada, a atenção exigida nas coleções femininas feitas à mão guiou a atenção aos tecidos, principalmente nos patchworks de padronagens que formava, de maneira uniforme, os sobretudos mais legais da passarela. Por cima da cartela soturna de cinzas, malhas ganharam bordados preciosos tanto dos mais brilhantes, quase pequenas joias distribuídas sobre looks, aos mais sorrateiros, como os vidrilhos dispostos entre as tramas de um tricô careta ao primeiro olhar. O processo também dialoga com o trabalho dos ateliês: em média, foram gastas cerca de 500 horas em cada uma das peças mais reluzentes.

Há espaço para um trabalho tão precioso, quase utópico, em uma grife famosa por vestir executivos que procuram segurança, e não alto risco, no guarda-roupa? Stefano, desde de sua chegada, acreditava que sim. Sob os holofotes adequados (os da passarela, e não os sobre as araras), a investigação tinha o intuito de levar os domínios da gigante italiana adiante, buscar diálogos entre o que se cria e o que se vende e apurar as mudanças que, como repete-se à exaustão, caminham a passos microscópicos na moda deles.

Durante minha chegada ao showroom (e por causa de um atraso típico de #primeiravezemMilão), um grupo de buyers internacionais começava a receber uma aula sobre os detalhes da coleção e os desdobramentos que estarão dispostos em seus endereços. Aproveitei, quietinho, a imersão, claro. Ali, o trabalho precioso de jacquards e padronagens foi transformado em estampa, como na única jaqueta que ganharia tradução direta na coleção comercial; versões mais curtas e mais ajustadas da alfaiataria ampla do desfile cobririam a demanda por essenciais do cliente da marca. A calça larga de 5 pregas do desfile levantava polêmica no grupo de compradores: os mais animados pegavam, colocavam à frente do corpo, perguntavam os centímetros de diferença dos modelos tradicionais, usavam termos… apuravam suas pautas. Entre uma demonstração e outra, o papo era de que, desta vez, Pilati tinha mão ainda mais ativa na coleção que chega às lojas, o que preocupava, mas também animava, o grupo quando deparado com uma peça de maior emoção de moda.

Mesmo que redesenhados em produtos, os princípios de qualidade extraordinária e o preciosismo decorativista desta improvável alta costura masculina estavam ali, sob os olhos de quem ia atrás da informação. O mecanismo de leitura era gostoso de acompanhar; tinha efeito promissor para quem gosta de ver, mesmo que nos mínimos detalhes, as diferenças que podem moldar novas gerações do closet dos homens. Uma pena que esta história, pelo menos na Zegna, termina agora. Resta ir atrás, então, de outras respostas com a próxima etapa da grife e seja lá qual for a nova empreitada de Stefano Pilati.

Deixe um comentário

Fechar (X)