2016 pontua os 30 anos passados desde que Marc Jacobs assinou a primeira coleção de etiqueta homônima. Some este feito à projeção que a marca (lançada oficialmente mais tarde, em 1993) ganhou nos anos de hit após hit enquanto o big boss tinha jornada transoceânica simultânea como diretor criativo da Louis Vuitton por 16 anos (ciclo encerrado em 2013). Dá para visualizar, em uma investigação superficial, um ápice ali por volta de 2008, 2009, quando muita gente vestia (ou desejava) roupas e bolsas, quando um desfile atrasava duas horas e quando turistas lotavam os espaços da Marc by Marc Jacobs para uma lembrancinha a cada viagem.
O fervor se esmaeceu. A investida no Brasil esfriou, as coleções, ainda que apresentadas num dos slots mais concorridos da semana de Nova York, deixaram lembranças menos memoráveis. É difícil pensar num look marcante recente sem misturar estações. Na moda, mudanças estruturais também denunciam momentos de revisão: a saída da Louis Vuitton para uma oferta pública inicial na bolsa da cidade (que não veio), a reestruturação apressada da segunda linha ou a saída, em 2015, do sócio de longa data Robert Duffy mostravam que a geração de labels conterrâneas mais novas roubavam as atenções do nome recente mais expressivo da moda norte-americana. A América precisava redescobrir Marc Jacobs.
Esperto como poucos chefes criativos fashionistas, ele foi atrás de referências emblemáticas de seu país que impactaram seu leque de inspiração ao longo dos anos. É famoso o apreço que Jacobs tem pela arte contemporânea, mas, num momento de pressão, a referência precisava ser imediatista. O inverno 2015 serviu de ensaio, mas foi o teatro da première de cinema, indústria norte-americana cultuada globalmente, que levou para novos tempos elementos caros ao designer: o olhar sobre cultura pop vibrante em remix contemporâneo, o flerte com o kitsch e a beleza vinda de origens múltiplas, a inclusão de quem não é bem visto pela moda e o expertise em uma imagem marcante, que se fixe nos olhos de quem vê tanta, mais do que nunca, imagem por temporada. Caberá ao tempo confirmar (e a coleção chega às lojas na segunda semana de fevereiro para colher resultados), mas o verão 2016 de Marc Jacobs levantou uma onda forte de retomada à marca que procurava, por trilhas sinuosas, um caminho preciso para o futuro.
Meses depois do desfile, as imagens oficiais da estação foram apresentadas ao longo das primeiras semanas de 2016 de maneira zero corporativa. Estreavam aos poucos na conta de Instagram que Marc jurou que não teria, estreladas por um casting populoso com participação de nomes que, quando reunidos, formaram a América pessoal e intransferível do designer. Os looks ganharam papel de coadjuvantes em artistas como Bette Midler, Sandra Bernhard e Juliette Lewis acompanhadas por elenco digno de superprodução fashionista que mistura Pat Cleveland com Joan Smalls, Beth Ditto com Bella Hadid, Lana Wachowksi com Christina Ricci, Sky Ferreira com Emily Ratajkowski.
Uma das inteligências mais apreciadas de Marc Jacobs é a capacidade de criar um vocabulário fashionista complexo que estabelece diálogos entre referências e necessidades que a gente não conseguiria conectar sem a sua liderança. Aqui, o anseio por um estilo pessoal que transcenda tendência, fashionismo ou report leviano, tema que começou a ser desenvolvido na temporada anterior, ajuda a dar gás à coleção. Sob a ótica de um passeio pela sociedade americana de seus sonhos e com o auxílio de seu instrumento de representação mais potente, são jogados para primeiro plano a fluidez de gênero, a diversidade de tipos físicos, a moda em primeira pessoa, o talento versus o furor midiático… fatores que acaloram discussões sobre (a falta d)o vínculo das coleções com a vida que as cercam. Marc quer uni-las novamente; parece ainda mais emergencial quando o futuro de seu business vira espetáculo ao lado das supostas orgias em seu endereço. Agora, finalmente, Marc Jacobs começa a dar conta de amarrar o enredo completo. Que venha a sequência!